Dar conta de todo o conteúdo exigido e ter controle sobre as emoções são desafios enfrentados pelos concurseiros. Muitos preferem encarar esse caminho na companhia de outras pessoas que estão na mesma situação e compreendem as pressões que vivenciam.
Em certos casos, quando se percebe que se está em desvantagem em relação aos demais candidatos e não se tem condições financeiras para pagar um cursinho preparatório, a alternativa é buscar um cursinho popular. E, embora o objetivo principal seja absorver conteúdos, essa experiência pode ir além e adentrar o campo da política.
Um exemplo disso é o cursinho popular Ivone Lara, localizado em Itaquera, São Paulo, que é voltado para candidatas que prestam concursos nas áreas de serviço social e psicologia. Alline Evelyn Santos, que integra o grupo de professores do cursinho, comenta que migrou para lá depois de lecionar em outro cursinho, que tinha como alunos pessoas que se preparavam para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). “Nós vamos receber também pessoas da Pedagogia nesse segundo semestre”, ressalta Alline.
Em geral, os concurseiros adotam uma rotina intensa de estudos, virando até a madrugada lendo livros, apostilas, anotações e esquemas de memorização. Há aqueles que abandonam seus empregos para se dedicar exclusivamente aos estudos.
Embora existam concursos que exijam um grau ainda maior de dedicação, como o do Instituto Rio Branco, de ingresso na carreira diplomática do Ministério das Relações Exteriores, decorar e assimilar conteúdo já é um grande desafio. Para muitas pessoas, uma prova de concurso público pode ser a única chance que elas terão por um bom tempo de progredir na vida, e muitas vezes isso envolve até mesmo viagens para realizar o teste, caso morem em outra localidade. Isso indica que é necessário realizar todo um planejamento, inclusive com gastos.
Raquel Fernandes, assistente social e aluna do cursinho popular Ivone Lara, por exemplo, mora no Itaim Paulista, na zona leste da capital paulista, e se formou em 2016. Atualmente, trabalha em sua área, em uma instituição que tem convênio com a prefeitura municipal. Por indicação de um amigo, ela ingressou no cursinho há um ano e meio.
Duas vezes por semana, Raquel vai às aulas no cursinho. Um dos dias é reservado para aulas de matemática e língua portuguesa, enquanto o outro é dedicado a conhecimentos específicos de sua área de atuação. Além disso, o cursinho também oferece ciclos formativos, que são aulas abertas para a população que queira participar. Esses temas também são voltados à área de serviço social e são importantes para debater enquanto coletivo e sociedade.
Devido à sua carga de trabalho no expediente, Raquel se esforça para conciliar a vida pessoal e profissional com os estudos para concurso. Por isso, ela procura reservar, no mínimo, três horas semanais para revisar o conteúdo, seja pelas manhãs ou nos fins de semana, quando também descansa do trabalho.
“Entrei no cursinho com o pensamento de que eu iria apenas estudar para concurso público. Hoje tenho uma outra visão do que ele é. Lá, além da formação continuada, há a troca de conhecimentos e tentamos levar temas importantes à população, como o combate ao racismo e à LGBTQIfobia. Buscamos ocupar espaços para divulgar o nome do nosso cursinho e o que realizamos lá”, afirma Raquel. “Toda a construção do cursinho é feita de forma coletiva”, finaliza.