Segundo a gestão municipal, a iniciativa é pioneira no país e está alinhada com recomendações da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) em seu Relatório de Monitoramento Global da Educação de 2023. No entanto, a própria Unesco afirmou que não recomendou a proibição do uso de celulares ou outros dispositivos em sala de aula. O relatório da organização também aponta que o uso excessivo de celulares pode trazer prejuízos para a aprendizagem dos estudantes e defende a formação de professores e a orientação dos estudantes para o uso pedagógico dos celulares.
Além disso, a Unesco aponta que a tecnologia digital na educação ainda tem poucas evidências de valor agregado, que evolui mais rápido do que pode ser avaliado, e que a desigualdade no acesso à internet ainda é grande. O relatório reconhece que a tecnologia digital possibilitou ampliar o alcance dos recursos de ensino e aprendizagem, mas também destaca que os professores muitas vezes se sentem despreparados para usar a tecnologia em sala de aula e que o conteúdo digital beneficia principalmente estudantes de países ricos.
A prefeitura do Rio de Janeiro também apresentou dados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) de 2022, divulgados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que mostraram que alunos que usam dispositivos digitais entre cinco a sete horas por dia tiveram pontuação média menor nos testes. No entanto, os dados também revelaram que, usado de forma correta, o celular pode melhorar o desempenho escolar.
Por outro lado, pesquisadores e educadores têm feito críticas à proibição de celulares e outros dispositivos na escola. A pedagoga Rosemary dos Santos, pesquisadora da Faculdade de Educação da Baixada Fluminense, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), argumenta que a escola precisa discutir e problematizar as questões tecnológicas presentes na sociedade, ao invés de simplesmente proibi-las.
Ela afirma que a internet é um direito humano e que é impossível viver sem acesso a ela nos dias de hoje. Segundo Rosemary, a proibição nas escolas não resolve o problema, mas apenas o esconde, e os alunos continuarão a usar os dispositivos eletrônicos em outros locais. Ela defende que a escola pode promover projetos de leitura, podcasts e produção de vídeos com os alunos, aproveitando o potencial pedagógico dos dispositivos digitais.
Assim, a discussão sobre o uso dos celulares e dispositivos eletrônicos nas escolas envolve diversas perspectivas e implicações para a educação. A proibição de uso tem sido alvo de críticas e tem gerado debates sobre a forma como a tecnologia pode ser utilizada em benefício da aprendizagem dos alunos. A realização de uma consulta pública pela prefeitura é um passo importante no sentido de ouvir a opinião da sociedade e promover um debate democrático sobre o assunto. Ao mesmo tempo, evidencia a necessidade de investimentos na formação de professores para a utilização eficaz da tecnologia em sala de aula, visando contribuir para a formação de cidadãos mais integrados com a sociedade tecnológica.