Eduardo Bolsonaro quer proibir comunismo e criar seu ‘Foro’

O deputado federal e líder do PSL na Câmara, Eduardo Bolsonaro, de 34 anos, devia acompanhar o pai, o presidente eleito Jair Bolsonaro, em sua primeira visita ao Supremo Tribunal Federal (STF). Era manhã de quarta-feira. O apartamento funcional ainda guardava as marcas na mesa da primeira reunião da equipe de transição ocorrida na noite anterior.

Reeleito com 1,8 milhão de votos em São Paulo – o mais bem votado da história da Câmara -, o filho do presidente defendeu a tipificação como terrorismo dos atos do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST) um dia depois do futuro ministro da Justiça, Sergio Moro, mostrar sua discordância sobre o tema. “Se fosse necessário prender 100 mil pessoas, qual o problema nisso?” Também disse querer criminalizar o comunismo no País, a exemplo da Polônia, da Ucrânia e da Indonésia.

Eduardo Bolsonaro defende idade mínima para a aposentadoria diferente entre trabalhadores braçais e de escritório. E quer aprovar o projeto Escola Sem Partido, além de propor uma Constituinte exclusiva para a reforma política. Não descarta ser candidato a prefeito ou governador de São Paulo, atesta o Terra.

Enquanto comia meio mamão e bebia uma taça de café com leite, o deputado contava que almeja criar um Foro de São Paulo da direita. Surfista e espécie de secretário de relações internacionais do pai, a onda conservadora que saiu das urnas em outubro tem em Eduardo um de seus principais arautos. No Congresso, o filho do presidente eleito quer diálogo com o PP, o MDB e o PSDB. Eis sua entrevista.

A indicação de Sérgio Moro para Pasta da Justiça não dá munição ao PT para o discurso de que Lula foi perseguido?

Não vejo nenhuma uma perseguição ao PT. Ele condenou gente de todos os partidos. Nós não temos essa preocupação, pois eles sempre vão criticar. A crítica fundada ou infundada vai sempre ser constante. Moro virou símbolo de combate à corrupção. Ele tem curso em Harvard, é juiz de carreira – o que está de acordo com a proposta de Jair Bolsonaro de que nomearia pessoas técnicas para os ministérios. Então, não tem nada de errado. Se sair pela rua perguntando se o Moro tem todas as qualificações para ser ministro da Justiça, a maioria vai dizer que sim. Até porque ninguém vai saber quem foram os últimos ministros.

O senhor disse que era preciso um presidente da Câmara com perfil de trator. O governo não quer negociar com a oposição?Negativo. A oposição é saudável. O que não é saudável é você tentar a todo custo derrubar um governo só para que os seus correligionários cheguem ao poder. A gente sabe que o que vai ocorrer não é uma oposição responsável. É uma oposição a todo custo.

O senhor acha que já vem pedido de impeachment em janeiro?

Eu não duvido. Quantos impeachments o PT propôs contra FHC? Pelo menos uma dúzia. Com ou sem fundamento, vai ser a conduta deles. Então, com esse tipo de oposição, no qual se enquadram, principalmente o PT, o PCdoB e o PSOL, não existe espaço para dialogar. Como eu vou dialogar com o MST invadindo terras? Não tem como. Agora, com assentado de reforma agrária que quer produzir tem como conversar. Agora, com todos os demais – PSDB, MDB, PP – não tem problema não.

Essa negociação incluiria as eleições das presidência do Senado e da Câmara?

Sim.

É possível a manutenção de Rodrigo Maia?

O perfil dele é muito articulador. Maia dialoga com todo mundo. É óbvio que eu, pessoalmente, tenho a preferência por outros candidatos.

O capitão Augusto (PR-SP)?

Eu dei uma entrevista e elogiei ele. Tem perfis que eu gosto: o João Campos (PRB-GO) e o Alceu Moreira (MDB-RS). Eu acho que esses três nomes seriam os que mais estão circulando e, por fora, também, tem o Giacobo (PR-PR). Eles têm de trabalhar dentro dos partidos deles e com os líderes para ver qual o nome será viável.

O mesmo vale para o MDB no Senado? Renan é um nome?

O Renan é um pouco mais complicado. Ele segurou a redução da maioridade penal e é favorável ao desarmamento. São ideias frontalmente contrárias a nós, sem contar que ele foi o autor do projeto de nova lei de abuso de autoridade, que ficou conhecida na sociedade como uma lei para brecar a Lava Jato. Esse perfil é impossível obter nosso apoio no Senado.

O governador de São Paulo, João Doria, pode obter o apoio do PSL?

Vai depender das propostas dele. Naquilo que for bom sim, naquilo que for contrário não.

Mas participação no governo?

Olha, me falaram de um deputado estadual que talvez estivesse para ser nomeado para o governo, mas participação de algum deputado do PSL no governo Doria não implica necessariamente no alinhamento automático de toda a bancada com a propostas que ele apresentar. Acho que o Doria, pelo que ele falou na sua campanha, ele está, pelo menos nesse momento, alinhado às ideias do Jair Bolsonaro, que são as ideias do PSL. Então naquilo que for ajudar a polícia a bem trabalhar e evitar doutrinação nas escolas, estamos junto. Ele não pode ser o tipo de governador que vai conversar com todo mundo. Se não daqui a pouco ele estará colocando deputado do PSOL no governo, como o caso emblemático da Soninha na Prefeitura, que ele pôs em secretaria. Esse tipo de conduta você pode ter certeza de que o PSL vai criticar.

Quando se fala do Moro, o Moro não é um personagem tão grande que pode fazer sombra ao presidente eleito?

Ele não se preocupa com vaidade. Se preocupa com o que é melhor para o Brasil. E o Moro tem, além do simbolismo, ele tem total competência para pôr em prática o combate á corrupção, que é o que minha geração mais abomina. O Moro vai fechar a torneira da corrupção. Ele falou em retomar as dez medidas de combate à corrupção. Vai haver um esforço grande no próximo ano para aprovar isso.

São agora 70 medidas…

Quantas forem necessárias

Uma delas, a 29, estabelece quarentena para ministro da Justiça entrar no Supremo. Ele deve esperar quatro anos após deixar o cargo para ser nomeados para o Supremo.

A se debater.

Se ela fora aplicada, o Moro não vai para o Supremo…

Cabe um estudo, fazer audiências públicas para analisar. Se for o caso , sim, por que não?

O PT sempre foi criticado por ter radicais e agora o PSL começa a ouvir as mesmas críticas…

Por exemplo, quem?

Existem propostas que foram defendidas, inclusive pelo senhor, como a criminalização do comunismo?

Ué, o nazismo é criminalizado.

Mas isso excluiria imediatamente dois partidos políticos, que seriam colocados fora da lei. Isso não entraria em atrito com a liberdade estabelecida Constituição?

E ela vai continuar estabelecendo.

Esse tipo de proposta iria adiante ou faz parte dao passado como retórica de campanha?

Não. É uma proposta que eu gostaria que fosse adiante, mas que depende de renovação do Congresso Nacional. É seguir o exemplo de países democráticos, como a Polônia, que já sofreu na pele o que é o comunismo. Se você for na Ucrânia também falar de comunismo, o pessoal vai ficar revoltado contigo. Outro países também proibiram, como a Indonésia. Então, você começa a perceber que não é algo tão radical assim, que existe em alguns países. E, de certa formas evita que as pessoas tenham de pagar com suas vidas aquilo que o passado já condenou.

Mas parlamentares de seu partido, como o general Peternelli e o major Olímpio disseram que não vai para frente…

A gente sabe que é difícil, mas você apresentando você chama para o debate.

Mas já que se sabe que não vai para frente, não é um perder tempo no Parlamento em um momento de crise em vez de se concentrar esforços naquilo que é importante, como a reforma da Previdência e a reforma Tributária?

Um dos papéis dos parlamentares é conscientizar as pessoas. São atribuições atípicas. É usar sua posição de destaque, de ser um representante de parcela da sociedade para falar os perigos do comunismo. Assim como falo do câncer de próstata.

Nos Estados Unidos não existe esse tipo de proibição – o partido comunista é legal. O exemplo da democracia americana não é melhor para ser seguido do que o da Polônia e da Indonésia?

Olha, nesse ponto, eu vou discordar. Os Estados Unidos já travaram durante a guerra fria um forte embate com os comunistas e graças a Deus os comunistas perderam. Talvez nunca tenham feito uma lei nesse sentido porque não tenham um exemplo como o da Venezuela ao lado.

Tiveram Cuba…

Por onde você olha que foi instaurado esse tipo de sistema, milhões de pessoas morreram. O exemplo mais recente é a nossa vizinha Venezuela. Dificilmente a Venezuela vai se libertar de uma maneira pacífica. Só com muita pressão, sanções internacionais, é que você vai conseguir ter uma eleição livre fiscalizada pela OEA. É por isso que eu apoio o governo de transição, uma proposta do Miguel Angel Martinez, que está exilado em Washington, que trabalha para promover esse governo.

O senhor é contra a MUD?

Sou contra. Acredito que ela apenas postergar o regime ditatorial de Maduro. E não ficaria surpreso se houvesse um jogo de cartas marcadas, pois a MUD é uma falsa oposição. Como você pode admitir que, em um País com uma eleição em que não compareceram 80% dos eleitores, você ainda assim trabalhe para mudar as coisas nas próximas eleições? Não tem como. Meu medo é que na Venezuela, além do comunismo tem Hezbollah e tráfico de drogas. Tem muita denúncias de uso de passaporte diplomático da Venezuela para o tráfico de drogas. Essa é outra questão que eu vou querer olhar de perto junto ao novo Ministério das Relações Exteriores para ver o que pode ser feito sobre isso.

O Brasil está recebendo muitos imigrantes da Venezuela e de Cuba, que fogem desses regimes. Qual deve ser a postura do Estado brasileiro em relação a esses imigrantes?

Tradicionalmente o Brasil tem uma postura solidária. A primeira coisa, sei que é difícil, é direcionar esforços para dar o mínimo de dignidade a esses refugiados. Eles fogem da fome e da violência em Caracas. Sei que demanda esforços. Mas muitas vezes essa mão-de-obra que chega é qualificada, o que é saudável ao País. Imigrantes nessas condições são bem vindos. É inócuo fechar a fronteira, pois eles vão chegar de alguma maneira.

É o caso de acolher essas pessoas?

É o caso de acolher sim, mas sempre tomando a devida precaução e fazendo uma investigação de vida pregressa. Pega o passaporte dela, pois no meio da maioria de pessoas boas pode vir um infiltrado do lado de lá, pois na Venezuela tem presença das Farc e do Hezbollah. Quem garante que no meio desse pessoal não está vindo esse tipo de gente? É por isso que dizemos que o Brasil não pode ser um País sem fronteiras.

Muitos aliados do senhor dizem que em relação ao Itamaraty será preciso fazer muita mudança no corpo de funcionários do atual, assim como no caso da Educação. O senhor concorda?

Eu acredito que sim. O que eu escuto falar é que o Itamaraty é um dos ministério onde mais está arraigada essa ideologia marxista e onde haveria uma maior repulsa ao presidente Jair Bolsonaro.

Mas o senhor acredita que é preciso mudar embaixadores?

Tem um corpo técnico qualificado ali dentro. Mas o que não pode ter é o que nos Estados Unidos tem lá o que o Trump chama de deep state, pessoas do próprio governo sabotando as ideias do governo. Eu sei que o Jair Bolsonaro tem um carinho em relação a algumas relações diplomáticas, como Estados Unidos, Israel e Japão, mas a principal preocupação é com o comércio exterior.

A esquerda fez o Foro de São Paulo. O senhor pretende ter o Foro de São Paulo da direita?

Eu quero aproveitar essa onda conservadora para dar uma resposta ao Foro de São Paulo. Semana que vem (nesta semana) vou aos Estados Unidos. O Steve Bannon tem o Movement, que conta com a participação do Salvini (Matteo Salvini, ministro do interior da Itália, do partido Liga Norte). A gente quer ter uma conexão internacional para a troca de ideias – um think tank -, pensar em medidas que estão sendo feitas de forma pioneira na Itália que a gente possa fazer aqui também. É participar do jogo democrático de forma organizada. Pretendo estreitar essas relações.

12/11/2018

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