Esses dados foram revelados pela Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada nesta quinta-feira pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). O estudo mensal abrange 18 mil famílias de todo o país, contabilizando dívidas em diversas modalidades, como cartão de crédito, cheque especial, carnês de loja, crédito consignado, empréstimos pessoais, cheques pré-datados e prestações de autos e imóveis.
A pesquisa revela uma correlação entre o nível de endividamento e a faixa de renda das famílias. Entre os lares com renda até três salários mínimos, 81% estão endividados. Aqueles com ganhos de três a cinco salários mínimos têm uma taxa de endividamento de 79,6%. Já as famílias com renda entre cinco e dez salários mínimos apresentam 76,7% de endividamento. O menor índice é observado entre as famílias com renda acima de dez salários mínimos, com 69,8%.
Embora a dívida não seja necessariamente negativa, pois pode impulsionar o consumo e aquecer a economia, preocupa quando as famílias começam a enfrentar dificuldades para honrar os pagamentos, resultando em inadimplência. Em julho, o percentual de famílias com dívidas atrasadas ficou em 28,8%, mesmo patamar de junho, mas abaixo dos 29,6% registrados há um ano. A parcela de famílias que afirmam não conseguir pagar suas dívidas foi de 11,9% em julho, comparado a 13% em outubro do ano passado.
Em termos de comprometimento da renda com dívidas, a média foi de 29,6% em julho, marcando o quinto mês de retração desde os 30,4% verificados anteriormente. O tempo médio de endividamento registrado é de 7,2 meses. O cartão de crédito continua sendo a principal modalidade de dívida, utilizado por 86% dos devedores, seguido pelos carnês (15,7%), crédito pessoal (10,6%), financiamento de casa (9,1%), financiamento de carro (8,4%) e crédito consignado (5,6%).
A pesquisa também dedicou atenção especial ao estado do Rio Grande do Sul, que foi duramente afetado por enchentes no fim de abril e em maio. O índice de endividamento das famílias gaúchas atingiu 91,2%, cerca de 12,7 pontos percentuais acima da média nacional. Esse é o maior percentual desde outubro do ano passado. No estado, 38% das famílias têm dívidas em atraso, superando em 8,7 pontos percentuais a média nacional. Os dados sugerem que muitas famílias gaúchas recorreram ao endividamento para lidar com as consequências econômicas do desastre natural.
A CNC projeta uma leve redução no índice de endividamento nacional em agosto e setembro, para 78,2%. Contudo, espera-se que o índice volte a subir, fechando o ano em 78,4%. Em relação à inadimplência, a previsão é de crescimento contínuo, terminando 2024 com 29,5% das famílias nessa situação.