Recentemente, o Banco Central divulgou uma análise sobre o impacto das plataformas digitais no mercado de trabalho nacional. O estudo propõe cenários hipotéticos que consideram a ausência dessas plataformas, ilustrando como a situação do emprego poderia ser afetada. Entre as simulações, foi sugerido que muitos dos atuais trabalhadores de aplicativos teriam provavelmente se tornado desempregados ou, pior, saído completamente da força de trabalho. O relatório estima que, sem essa modalidade de trabalho, a taxa de desemprego poderia ter aumentado entre 0,6 e 1,2 pontos percentuais, elevando o índice atual de 4,3% para até 5,5%.
O Banco Central também explorou a relação entre o crescimento do trabalho por aplicativos e a evolução do nível de ocupação geral. As conclusões indicam que, apesar do aumento drástico no número de trabalhadores em plataformas, a maioria deles não estava ocupada em outros setores antes de ingressar nesse tipo de trabalho, sugerindo que as plataformas exercem um papel crucial ao inserir pessoas no mercado de trabalho.
Entretanto, é importante ressaltar que essa crescente inclusão no mercado de trabalho não vem sem seus desafios. Apesar de elevarem os números de ocupação, os aplicativos também têm sido associados à precarização do trabalho. Uma pesquisa do Fairwork Brasil revelou que os principais aplicativos do setor não conseguiram demonstrar o cumprimento de padrões mínimos de trabalho decente, como remuneração justa e condições apropriadas. O estudo “Plataformização e Precarização do Trabalho” do Ipea destaca que o trabalho mediado por aplicativos tem levado a jornadas de trabalho mais longas, redução da contribuição previdenciária e uma significativa queda na renda média desses profissionais.
Dados que retratam a evolução de motoristas autônomos no setor de transporte de passageiros revelam que, enquanto em 2015 havia cerca de 400 mil motoristas com rendimento médio de R$ 3,1 mil, em 2022 essa cifra subiu para quase 1 milhão, mas o rendimento médio caiu para menos de R$ 2,4 mil. Além disso, o percentual de motoristas que contribuíam para a previdência social passou de 47,8% em 2015 para apenas 24,8% em 2022.
Em resumo, a expansão do trabalho em aplicativos no Brasil é um fenômeno multifacetado, resultando em benefícios inegáveis, como a inclusão de mais pessoas no mercado de trabalho, mas também em sérios desafios que merecem atenção e ação efetiva do poder público e da sociedade em geral.