É importante ressaltar que, embora o fechamento de agências possa parecer um obstáculo ao princípio de universalização dos serviços postais, que obriga a empresa a cobrir todo o território nacional, o presidente da estatal, Emmanoel Rondon, garantiu que este processo será conduzido com cautela. Ele afirmou que a empresa fará uma análise cuidadosa, buscando equilibrar a saúde financeira das agências e o cumprimento dessa obrigação.
Além dos cortes de agências, o plano prevê uma redução de despesas da ordem de R$ 5 bilhões até 2028, passando pela venda de imóveis e pela implementação de dois planos de demissão voluntária. Com essas ações, a empresa espera diminuir seu quadro de funcionários em até 15 mil até 2027. Rondon destacou a rigidez presente nas despesas da companhia, onde 90% delas são fixas, limitando a flexibilidade para se adaptar às dinâmicas do mercado.
A reestruturação se faz necessária diante dos resultados negativos que a estatal vem enfrentando, com um déficit estrutural que já atinge R$ 4 bilhões anuais. Somente em 2025, os Correios acumularam um saldo negativo de R$ 6 bilhões nos primeiros nove meses do ano e apresentam um patrimônio líquido negativo de R$ 10,4 bilhões.
Para tentar estabilizar a situação financeira, a empresa obteve um empréstimo de R$ 12 bilhões, mas ainda busca mais R$ 8 bilhões que seriam essenciais para a saúde financeira em 2026. Além disso, uma transformação societária a partir de 2027 está sendo considerada, com a possibilidade de a empresa se tornar uma companhia de economia mista.
Outras medidas incluem ajustes nos planos de saúde e previdência dos servidores, que também sofrerão cortes nos aportes feitos pela estatal, levando em conta a insustentabilidade financeira atual. Com as demissões voluntárias e as alterações nos benefícios, a expectativa é de que as despesas com pessoal diminuam em R$ 2,1 bilhões anualmente.
Esse plano de reestruturação não é apenas uma resposta a déficits financeiros; busca reafirmar os Correios como um ativo estratégico no Brasil, essencial para garantir um acesso igualitário a serviços logísticos, especialmente em regiões onde a presença de alternativas é limitada.
A crise enfrentada pelos Correios não é um fenômeno isolado. Mudanças ocorridas no mercado postal, especialmente em decorrência da digitalização e da crescente concorrência no comércio eletrônico, têm impactado o setor como um todo, levando muitas empresas de correios, inclusive a estatal norte-americana, a reportar prejuízos significativos. Com isso, a reestruturação se mostra uma tentativa de adaptação e sobrevivência em um cenário complicado.
