A realidade é alarmante, pois estima-se que mais de 10% da população, o que equivale a aproximadamente 21,7 milhões de pessoas, viva com uma renda inferior ao custo da cesta básica ideal. Ricardo Mota, gerente de Inteligência Estratégica do instituto, enfatiza em nota que, apesar da alimentação adequada ser um direito constitucional garantido, sua realidade é distante para a maioria das famílias brasileiras. Essa discrepância entre o direito garantido e a realidade econômica vivida evidencia um grave problema social que precisa de atenção urgente.
A falta de monitoramento contínuo e políticas públicas efetivas tem dificultado o enfrentamento da insegurança alimentar no país. Para o cálculo do preço da cesta ideal, o Instituto Pacto Contra a Fome utilizou dados do Núcleo de Epidemiologia e Biologia da Nutrição da Universidade de São Paulo, que elaborou uma lista baseada em alimentos in natura e minimamente processados, alinhada com as orientações do Guia Alimentar para a População Brasileira e à Comissão EAT-Lancet.
No contexto da inflação, os dados revelam que a pressão dos preços dos alimentos atinge de forma desproporcional as famílias mais vulneráveis, impactando-as até 2,5 vezes mais do que as de alta renda. O mês de abril apresentou um aumento de 0,82% no grupo de Alimentação e Bebidas, com destaques para o crescimento substancial nos preços de itens como batata, cuja alta foi de 18,29%, seguida pelo tomate e o café moído, que também engordaram os custos na mesa dos brasileiros. Enquanto o índice geral de inflação, medido pelo IPCA, ficou em 0,43%, a inflação alimentar reforça a fragilidade da situação financeira das famílias de menor renda.
Ainda que tenha havido queda em produtos como arroz, mamão e feijão preto, a pressão inflacionária permanece concentrada em itens essenciais, que são particularmente sensíveis a variações climáticas e sazonais, complicando ainda mais o acesso a uma alimentação saudável e adequada para a população.