No último ano, o Brasil investiu cerca de 10 bilhões de dólares em importações na área médica. Isso inclui não apenas medicamentos, mas também equipamentos para cirurgias, reagentes para diagnósticos e diversos instrumentos de uso médico, muitos deles oriundos dos Estados Unidos. A possível resposta brasileira ao tarifaço preocupa o setor. Para Paulo Fraccaro, CEO da Associação Brasileira de Indústria de Dispositivos Médicos, o país poderá buscar alternativas em fornecedores como China, Índia e Turquia. Contudo, ele avisa que, além da possibilidade de aumento nos custos de importação, a reciprocidade nas tarifas pode fazer com que esses produtos cheguem ao consumidor final até 30% mais caros.
Os medicamentos com patentes, especialmente aqueles voltados para tratamento de doenças raras e de alta tecnologia, são especialmente vulneráveis a uma guerra tarifária, aumentando ainda mais a pressão sobre os sistemas de saúde. No primeiro semestre deste ano, as importações de medicamentos de alto custo e produtos farmacêuticos alcançaram 4,3 bilhões de dólares, representando um crescimento de 10% em relação ao mesmo período do ano anterior. A União Europeia lidera como maior fornecedora desses produtos, enquanto Alemanha e Estados Unidos são responsáveis por aproximadamente 15% das importações.
Embora o Brasil se destaque na produção de medicamentos genéricos, a maior parte dos insumos utilizados na fabricação é proveniente da China, com 95% das matérias-primas necessárias importadas. Norberto Prestes, presidente-executivo da Associação Brasileira de Insumos Farmacêuticos (Abiquifi), enfatiza a importância de investir em pesquisa e na produção local. Ele argumenta que o Brasil possui um potencial robusto representado por talentos acadêmicos e de pesquisa que, muitas vezes, se transferem para o exterior. Para Prestes, reter esses profissionais e desenvolver o sistema nacional é fundamental para aumentar a soberania do país na área farmacêutica, garantindo assim um futuro mais estável e sustentável para a saúde brasileira.