Doador do CT do Deic é Ligado a Empresas de Fachada e Investigações por Lavagem de Dinheiro

A recente doação do centro de treinamento de artes marciais do Departamento Estadual de Investigações Criminais (DEIC) em São Paulo levantou suspeitas sobre a idoneidade do doador. A empresa C2 Gestão de Patrimônio é atribuída a Felipe Francelino da Silva Alves, um pintor de 34 anos que vive em condições precárias. Surpreendentemente, a C2 possui um patrimônio estimado em mais de R$ 1,6 milhão, com ativos luxuosos, incluindo carros de alto valor e um jet ski.

Francelino está enfrentando uma ordem de despejo e declarou dificuldades financeiras em um processo judicial. Embora o pintor não tenha sido localizado para comentar, sua esposa, Bruna Aquino, indicou que Fernando Macedo Frota Rondino, o contador da empresa, seria a pessoa responsável por falar sobre a doação. Rondino é alvo de investigações por supostas operações de lavagem de dinheiro, envolvendo a criação de empresas “de fachada” em nome de terceiros.

Na última sexta-feira, a doação foi anunciada oficialmente no Diário Oficial, totalizando R$ 36,7 mil, destinados à compra de equipamentos e adequação do espaço. Essa movimentação ocorre em um contexto de investigações sobre Gabriel Cepeda, um empresário associado a atividades ilícitas e considerado uma figura próxima ao Primeiro Comando da Capital (PCC). O conteúdo da doação foi celebrado apenas dias após a revelação da ligação de Cepeda com o projeto.

O diretor do DEIC, Ronaldo Sayeg, afirmou que a doação foi intermediada por um amigo e que o contato foi feito de forma informal. Essa explicação levanta questões sobre a transparência do processo envolvendo a doação. Investigadores apontam que a relação de Rondino com a aparência de empresas “laranja” representa uma rede complexa de transações suspeitas. Entre elas, a Yespay, uma fintech associada ao PCC, cuja movimentação supera dezenas de milhões de reais entre 2019 e 2021.

A investigação também expôs conexões entre empresas criadas por Rondino e atividades ilícitas, incluindo a produção de substâncias controladas. Relatórios anteriores indicam que uma dessas empresas foi investigada por tráfico de drogas, destacando uma possível trama criminosa mais ampla. Além disso, o influenciador e ex-lutador Matheus Serafim mencionou Cepeda em relação à doação, embora tenha depois negado a veracidade de suas declarações.

Todos esses elementos demonstram a necessidade de uma apuração rigorosa sobre a doação do centro de treinamento, levantando dúvidas sobre a integridade não apenas da C2 Gestão de Patrimônio, mas também do próprio DEIC. A Secretaria da Segurança Pública declarou que todas as documentações foram analisadas e que uma investigação interna está em andamento. O desenrolar deste caso é crucial para entender a profundidade das ligações entre crime organizado e instituições públicas.

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