Segundo o psiquiatra e presidente do Cisa, Arthur Guerra, a análise dos dados revela que em 2022 a população negra teve uma taxa de 10,4 mortes atribuíveis ao álcool por 100 mil habitantes, enquanto para os brancos essa taxa foi de 7,9, representando um aumento de cerca de 30%. No caso das mulheres, a diferença é ainda mais expressiva, com taxas de óbito de 2,2 e 3,2 para mulheres pretas e pardas, respectivamente, em comparação com 1,4 para mulheres brancas.
Uma das explicações apontadas para essa desigualdade é a histórica desigualdade racial no país, que impacta o acesso desigual a tratamentos de saúde. A coordenadora do Cisa, Mariana Thibes, destaca que a população negra enfrenta maior vulnerabilidade social devido ao racismo e à pobreza, o que dificulta o acesso a uma vida digna e, consequentemente, a serviços de saúde de qualidade para tratar transtornos decorrentes do uso de álcool.
Além disso, estudos internacionais indicam que a discriminação racial é um fator estressor que contribui para problemas físicos, emocionais e comportamentais associados ao consumo de álcool. No entanto, é ressaltado que isso não significa que os negros abusem mais do álcool, mas sim que enfrentam mais dificuldades para obter tratamento de qualidade.
Diante desse cenário, a conscientização sobre o abuso de álcool e a promoção da inclusão e diversidade nos serviços de saúde mental se tornam fundamentais para garantir que todos tenham acesso igualitário a cuidados de qualidade. A pandemia interrompeu a tendência de queda nas mortes atribuíveis ao álcool, com dezesseis estados apresentando taxas superiores à média nacional.
O Cisa destaca ainda a importância de serviços de saúde culturalmente sensíveis e de qualidade para lidar com o problema do alcoolismo, ressaltando que a recaída faz parte do processo de tratamento e que o apoio familiar e profissional é essencial nesses momentos. O relatório foi elaborado com base em dados do IBGE, Datasus e Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM).
O Centro de Informações sobre Saúde e Álcool é uma referência no Brasil sobre o tema desde sua fundação em 2004. Atuando na conscientização, prevenção e redução do uso nocivo de álcool, a instituição se dedica ao avanço do conhecimento na área e na divulgação de pesquisas e dados científicos para a sociedade.