Atualmente, todos os policiais, exceto a tenente, optaram pelo silêncio, uma estratégia prevista pelas partes envolvidas para evitar contradições. A audiência foi marcada por protestos realizados do lado de fora do fórum, onde centenas de jovens, a maioria negros, se reuniram em apoio às mães das vítimas. A mobilização social destaca uma crescente indignação popular em relação à forma como a polícia atua nas comunidades periféricas.
A versão da Polícia Militar apontou que um reforço no efetivo foi necessário devido ao risco representado por dois suspeitos em uma motocicleta, que teriam começado a disparar tiros, desencadeando o tumulto entre os frequentadores do baile. No entanto, famílias das vítimas, assim como seus advogados e a Defensoria Pública de São Paulo, contestam essa narrativa. Eles argumentam que os jovens foram deliberadamente cercados, resultando em uma emboscada que culminou em mortes por asfixia, uma tese corroborada por uma biomédica da Universidade Federal de São Paulo, que descartou a hipótese de pisoteamento.
Durante a audiência, Aline Ferreira negou qualquer intenção deliberada de direcionar as vítimas àquela localização específica e argumentou que seria “impossível” realizar tal ação em um lugar que desconhecia completamente. A tenente também afirmou que, se houvesse um plano intencional para a tragédia, as consequências poderiam ter sido ainda mais devastadoras.
Esse caso se insere em um contexto mais amplo de operações policiais na capital paulista, intensificadas durante a gestão do ex-governador João Doria, que visavam coibir bailes funk e atividades em comunidades periféricas, tidas como um meio de criminalização cultural. Entre janeiro e dezembro de 2019, a polícia realizou mais de 7 mil operações, justificadas pela suposta necessidade de combate ao tráfico de drogas e à desordem pública.
Os advogados das famílias questionam, além da ausência de socorro, a condução da operação. Aline reconheceu que o treinamento de primeiros socorros oferecido pela PM é superficial e não é contínuo, embora tenha justificado sua ação em um cenário complexo e crítico, na qual o atendimento inicial poderia não ter sido eficaz.
Com a chegada das próximas etapas do processo, a defesa e a acusação apresentarão suas considerações escritas ao juiz, que decidirá se os réus serão levados a julgamento popular. Há uma expectativa de que a fundamentação do caso seja compreendida como um crime doloso, onde a intenção dos policiais poderá ser amplamente discutida em tribunal. A fase que se aproxima é decisiva não apenas para os envolvidos, mas para o entendimento social sobre a atuação policial nas periferias e a questão da proteção às vidas nas comunidades.
