A ocupação foi liderada pelo Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), que defendia que o imóvel em questão pertence à Secretaria de Patrimônio da União e estava abandonado há mais de 15 anos. De acordo com o movimento, cerca de 120 famílias, incluindo aproximadamente 30 crianças, tentaram se abrigar no local na manhã do mesmo dia.
Imagens compartilhadas nas redes sociais pela organização mostram os ocupantes removendo entulhos e preparando o espaço, que incluía uma creche improvisada para as crianças. Contudo, a situação rapidamente tomou um rumo desfavorável, com policiais cercando o prédio e conduzindo os moradores à força para fora, em meio a uma nuvem de gás lacrimogêneo, o que causou mal-estar a alguns dos presentes, em especial idosos e crianças.
A oficialidade municipal justificou a desocupação com a promessa de que, em breve, teriam início as obras do Centro Cultural Rio África. Este projeto visa discutir e valorizar a diáspora africana no Brasil, sendo posicionado estrategicamente em frente ao Cais do Valongo, um local de significativa relevância histórica.
O episódio não se restringiu apenas à desocupação. Parlamentares, como o deputado federal Tarcísio Mota e o deputado estadual Professor Josemar, que estavam presentes na operação para tentar impedir o despejo das famílias, relataram agressões por parte dos agentes da Guarda Municipal. Vídeos que circulam nas redes sociais mostram o momento em que Josemar é empurrado por um guarda, enquanto ambos são atingidos por jatos de spray de pimenta. A Secretaria Municipal de Ordem Pública, que supervisiona a Guarda, não se manifestou sobre as alegações feitas pelos deputados.
Por outro lado, o prefeito Eduardo Paes, ao repostar o vídeo em suas redes sociais, elogiou a ação da Polícia Militar e da Guarda Municipal, repetindo a narrativa de que a ocupação foi irregular e perpetrada por “baderneiros”. Em um comunicado, a Secretaria do Patrimônio da União revelou que uma parte do imóvel, de fato, pertence à União, mas que o trecho destinado ao futuro centro cultural é de propriedade privada, e que está monitorando a situação junto às autoridades locais.
Para o Ministério da Gestão e Inovação, a área devoluta é um dos 72 imóveis disponíveis para o programa Minha Casa, Minha Vida e é considerada uma oportunidade para a construção de habitações populares em diversas regiões do país. A tensão entre os interesses sociais e a urbanização planejada continua a gerar debates acalorados na sociedade carioca.