DIREITOS HUMANOS – PM mata dois sem-terra em operação de reintegração de posse em Rondônia e gera polêmica sobre as circunstâncias da abordagem policial.

Na última quinta-feira, 20 de outubro, um episódio trágico ocorreu em Machadinho do Oeste, Rondônia, envolvendo a Polícia Militar e participantes de uma ocupação de terras mantida por centenas de sem-terra. Os irmãos Alex e Alessandro Santos Santana foram mortos durante uma operação que visava a reintegração de posse de quatro fazendas pertencentes ao grupo Nelore Di Genio, propriedade do empresário João Carlos Di Genio, conhecido por fundar uma renomada rede de educação.

De acordo com informações oficiais da Polícia Militar, os irmãos foram baleados após, supostamente, trocarem tiros com os agentes do Batalhão de Choque que realizavam patrulhamento na região. A PM afirma que o veículo em que os irmãos estavam foi avistado em alta velocidade e que, ao tentarem evadir-se, dispararam contra os policiais. Durante a fuga, o carro atolou em uma área de mata, onde os irmãos, armados, supostamente continuaram a disparar contra os agentes, levando à troca de tiros.

Entretanto, a versão apresentada pela PM foi contestada por representantes da Comissão Pastoral da Terra (CPT), que alegaram que a abordagem ocorreu em um momento em que os sem-terra já estavam deixando as propriedades, conforme determinação judicial. O assessor agrário da CPT, Josep Iborra, mais conhecido como Zezinho, descreveu a situação como uma “caçada humana”, onde as famílias foram forçadas a abandonar seus pertences e se esconder em áreas adjacentes, sem alternativas viáveis para a moradia.

Zezinho ainda destacou que, apesar de a desocupação da fazenda ter sido realizada pacificamente, muitas famílias permanecem nas proximidades, dispersas e vulneráveis. Ressaltou também que houveram falhas nos procedimentos legais, como a ausência de um plano de desocupação, como exigido por normativas do Conselho Nacional de Justiça.

A situação jurídica das terras é complexa; os sem-terra alegam que as propriedades são fruto de grilagem e que a ocupação começou sem notificações adequadas. A resposta da Polícia Militar sustentou, por sua vez, que agiu para preservar a ordem pública e garantir a segurança durante a operação.

O incidente levanta muitos questionamentos sobre o tratamento dos direitos das populações sem-terra no Brasil e como as intervenções policiais são realizadas em contextos de disputa agrária, um tema frequentemente reduzido a conflitos violentos. As reações à tragédia continuam a ressoar, com múltiplas vozes pedindo investigação e esclarecimento sobre as circunstâncias das mortes e os procedimentos adotados pela polícia durante a operação. Os advogados do grupo Di Genio também se pronunciaram, afirmando que as invasões às suas propriedades têm sido constantes, exigindo intervenções legais para proteger suas terras produtivas.

Esse evento trágico expõe a complexidade e a tensão que cercam a questão da reforma agrária no Brasil, onde os direitos de propriedade, a luta por justiça social e a necessidade de segurança pública frequentemente colidem. As consequências desse conflito reverberam não apenas nas vidas perdidas, mas também nas comunidades afetadas e na luta contínua por terras e direitos na região.

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