O levantamento, que contou com a participação de aproximadamente 1.200 pessoas em todo o Brasil, foi realizado pelo Instituto Patrícia Galvão em colaboração com o Instituto Locomotiva. Entre os resultados, destaca-se que apenas 27% das meninas que sofreram violência sexual confiou a um familiar sobre o ocorrido. O número se torna ainda mais preocupante ao analisar a ação das autoridades: apenas 15% dos casos foram encaminhados para delegacias, e apenas 9% tiveram a devida assistência em unidades de saúde.
Quando observadas as meninas e mulheres que sofreram violência a partir dos 14 anos, os índices de desamparo são igualmente alarmantes. Menos de 15% procuraram a polícia e 14% buscaram ajuda em serviços de saúde. Além disso, 60% dos entrevistados admitiram conhecer casos de crianças ou adolescentes com menos de 14 anos que foram vítimas de estupro, e 30% desses casos resultaram em gravidez.
A pesquisa também explorou a consciência sobre o que configura o estupro. Embora 95% dos entrevistados reconhecessem pelo menos uma forma de violência sexual, apenas 57% compreendiam que todas as situações descritas na pesquisa se configuravam como estupro, de acordo com a legislação brasileira. Entre as situações identificadas, 89% reconheciam que um homem ter relações sexuais com uma mulher inconsciente é considerado estupro, mas há um hiato significativo na compreensão completa sobre o tema.
Outro ponto importante abordado na pesquisa é a questão do aborto. A esmagadora maioria dos entrevistados (96%) acredita que meninas de até 13 anos não estão preparadas física e emocionalmente para serem mães. Entretanto, apenas 41% reconhecem que uma gravidez nessa faixa etária geralmente resulta de um estupro, dado que a legislação brasileira considera ilegítima toda relação sexual com menores de 14 anos.
A pesquisa também revelou que 70% das mulheres entrevistadas gostariam de ter o direito de interromper uma gestação resultante de estupro, e 56% afirmaram que optariam pelo procedimento se isso ocorresse. Esses dados elucidam uma necessidade imperativa de ampliar a conscientização e o acesso a serviços de apoio adequados para as vítimas de violência sexual, assim como uma melhoria nas políticas públicas voltadas para o acolhimento dessas meninas e mulheres em situação vulnerável.