DIREITOS HUMANOS – Pesquisadores do Incra São Ameaçados por Grileiros em Território Quilombola em Santo Antônio do Descoberto, Goiás, Complicando Reconhecimento e Segurança da Comunidade.

Nos últimos dias, uma equipe de pesquisadores do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em Santo Antônio do Descoberto, Goiás, tem enfrentado graves ameaças de grileiros em uma área rural de cerca de 1,5 mil hectares. Este território, conhecido localmente como Antinha de Baixo, está sendo avaliado para determinar se pode ser reconhecido como remanescente quilombola. Para os habitantes da região, esse local é designado como comunidade “Antinha dos Pretos”.

O estudo antropológico em andamento é essencial para o reconhecimento do território, mas tem sido atribulado por um clima de intimidação. O Incra, em um comunicado, alertou sobre as ameaças dirigidas a seus servidores e mencionou que as agressões poderiam ter origem em grupos e indivíduos com interesses materiais nessas terras, incluindo políticos. Para garantir a segurança dos pesquisadores, o Incra buscou apoio de instituições de justiça e segurança, incluindo a Câmara Nacional de Conciliação Agrária.

A Polícia Militar de Goiás informou que atua de forma preventiva na região, mas enfatizou que não havia recebido solicitações formais de suporte. Já a Secretaria de Segurança Pública não se pronunciou sobre a situação. Os pesquisadores estão coletando dados cruciais, como documentos históricos e testemunhos orais, para embasar o pedido de autorreconhecimento que a comunidade já submeteu à Fundação Cultural Palmares.

A complexidade da situação é ampliada pelo contexto judicial. Em 1º de agosto, a Fundação Palmares emitiu um documento reconhecendo a comunidade quilombola, mas poucos dias antes, uma decisão judicial previa a desocupação de 32 imóveis na área. A disputa pela terra remonta à década de 1940, levantando questões sobre a validade dos documentos apresentados por pessoas que reivindicam a propriedade. A comunidade contesta a autenticidade desses registros.

A tensão na região aumentou quando, após a decisão do Supremo Tribunal Federal que suspendeu a ordem de desocupação, casas foram destruídas por tratores supostamente a serviço dos beneficiários da decisão judicial. Informações indicam que membros da família de influentes políticos teriam interesse na área, mas tentativas de estabelecer contato com esses indivíduos para obter suas versões não foram bem-sucedidas.

Os moradores expressam que a situação é angustiante e que viver sob constante ameaça é uma realidade diária. Além do risco físico, os agricultores falam da ameaça à sua subsistência, pois suas atividades agrícolas são a base de suas vidas. O testemunho de líderes comunitários revela a luta pela preservação de uma identidade que remonta a gerações.

Enquanto a comunidade aguarda uma resolução para o seu precário status legal e a proteção contra as ameaças, a conexão com suas raízes se torna uma fonte de resistência e esperança. Para aqueles que habitam a Antinha de Baixo, cada lugar, cada ação e cada recurso é um símbolo de luta por sobrevivência em um contexto que mistura história e conflito.

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