Pesquisa Revela Desejo de Saída do Tráfico entre Vítimas do Crime
Uma nova investigação realizada por um instituto de pesquisa ligado à Central Única das Favelas revelou que um significativo percentual das quase 4 mil pessoas envolvidas com o tráfico de drogas almeja deixar essa realidade. De acordo com os resultados, 58% dos entrevistados expressaram o desejo de abandonar o crime, desde que pudessem garantir uma estabilidade econômica e pessoal. Por outro lado, 31% afirmaram que, se tivessem a chance de mudar, optariam por permanecer na atividade ilegal.
A pesquisa, batizada de “Raio-X da Vida Real”, ocorreu em favelas de 23 estados entre 15 de agosto e 20 de setembro de 2025. Os dados obtidos destacam que a possibilidade de abrir um negócio próprio é um forte atrativo para 22% dos participantes, enquanto 20% prefeririam um emprego formal com carteira assinada. No entanto, os dados variam de acordo com a localidade. No Ceará, por exemplo, 44% relataram que não deixariam o crime se pudessem, contrastando com 41% que se manifestaram a favor da saída. No Distrito Federal, o cenário é ainda mais sombrio: apenas 7% estariam dispostos a abandonar suas atividades ilícitas.
A pesquisa também trouxe à tona a questão da remuneração. A maior parte dos entrevistados (63%) declarou receber até dois salários-mínimos, o que destaca a precariedade econômica desses indivíduos. A renda média mensal atribuída à atividade criminosa era de R$ 3.536,00, sendo que 18% dos respondentes relataram que não tinham sobras financeiras ao final do mês. Esse cenário econômico é um dos principais fatores que levam essas pessoas a se envolverem com atividades ilícitas, acreditando que este caminho os levará a uma vida melhor, apenas para se decepcionarem com a dura realidade.
Em busca de complementar sua renda, 36% dos participantes da pesquisa informaram que desempenham outras atividades laborais, além do tráfico. Entre estas, 42% mencionaram fazer bicos informais, enquanto 24% se voltaram para pequenos empreendimentos. Outros 16% tinham empregos formais paralelamente ao crime, e 14% colaboravam com negócios de amigos.
O perfil dos entrevistados revela uma realidade muito restrita: 79% são homens, 21% mulheres, e a grande maioria deles é jovem, com idades entre 13 e 26 anos. Além disso, 74% se autodeclaram negros, e 42% não completaram o ensino fundamental. Notavelmente, 84% afirmaram que não desejariam que seus filhos seguissem o mesmo caminho.
Com essa pesquisa, puja-se à tona um retrato complexo das vidas de pessoas cujo cotidiano é marcado pela luta entre a sobrevivência e o desejo de mudança.









