A OAB SP Promove a Primeira Semana de Memória e Resistência Negra
A Ordem dos Advogados do Brasil Seção São Paulo (OAB SP) está promovendo, até o próximo sábado (24), a sua primeira Semana de Memória e Resistência Negra. A programação conta com diversas atividades e destaca uma exposição impactante intitulada Ecos do Silêncio. A mostra reúne objetos e documentos que remetem ao período da colonização e à escravização de africanos e seus descendentes, proporcionando uma reflexão profunda sobre a história do Brasil.
A curadora da exposição, Mabel de Souza, advogada, cineasta e pesquisadora, tem dedicado cerca de 15 anos à coleta de itens que retratam a brutalidade desse período. Sua trajetória de pesquisa foi inspirada por uma visita a Rothenburg Ob Der Tauber, na Alemanha, onde se impressionou com a preservação histórica local. Em suas palavras, a experiência no Museu de Criminologia da aldeia medieval, que exibia instrumentos de tortura, foi o ponto de partida para o seu projeto. A pioneira afirma que a forma como a história é apresentada na Alemanha poderia servir de exemplo para o Brasil, que muitas vezes hesita em confrontar sua própria herança histórica.
Mabel também está lançando seu novo livro, Engenhosidade Perversa, durante a Semana de Memória, e deseja que a exposição ofereça um espaço de aprendizado e consciência para o público. Embora a quantidade exata de africanos trazidos ao Brasil por meio do tráfico seja incerta, estimativas variam entre 4 a 8 milhões, com a média sugerindo cerca de 5 milhões. Essa história está intrinsecamente ligada à formação demográfica atual do país, que abriga a maior população negra fora da África.
Os itens expostos, adquiridos em várias partes do Brasil, incluem peças de tortura que foram utilizadas contra os escravizados. Cada aquisição foi feita com recursos pessoais da pesquisadora e exigiu esforços financeiros significativos, mostrando seu comprometimento com a preservação da memória. Mabel destaca que a coleção tem um impacto mais significativo quando as peças são apresentadas em conjunto, comparecendo como um testemunho coletivo de dor e resistência.
Além de Mabel, a presidente da Comissão da Verdade Sobre a Escravidão Negra no Brasil da OAB SP, Cristiane Natachi, também ressalta a importância da exposição. Para ela, a proximidade com esses instrumentos históricos provoca uma reflexão essencial entre os advogados sobre as repercussões da escravidão no Brasil moderno. Cristiane acredita que a abordagem amplamente superficial do tema nas faculdades de Direito deve ser revista, e a exposição traz uma oportunidade valiosa para uma experiência mais sensível e consciente.
A Semana de Memória e Resistência Negra na OAB SP, portanto, não apenas ilumina a história injusta e opressiva que moldou o Brasil, como também convoca o presente a refletir sobre suas consequências. O evento se torna um espaço para homenagear os que sofreram e lutaram, além de um convite à transformação social e ao reconhecimento das vozes silenciadas da história.