DIREITOS HUMANOS – Mulheres do Bloco Ilú Obá de Min Realizam Lavagem Tradicional no Bixiga, Reafirmando Luta Contra a Falsa Abolição da Escravatura em São Paulo

Na noite de terça-feira, 13 de junho, o bairro do Bixiga, em São Paulo, testemunhou um evento marcante: a tradicional lavagem da Escadaria do Bixiga, promovida pelo bloco afro Ilú Obá de Min. Com vestidos brancos e tambores nas mãos, mulheres se reuniram em um ato simbólico que vai além da festividade – é um manifesto contra o que elas definem como a “falsa abolição”.

Desde 2006, a lavagem da escadaria e da Rua Treze de Maio tem como objetivo reafirmar as lutas da população negra e questionar a narrativa oficial sobre a abolição da escravatura. O ato é um momento de resistência e de celebração da ancestralidade, onde água de cheiro é espalhada, simbolizando a purificação e o desejo por justiça e dignidade.

Durante a cerimônia, um manifesto foi lido, ecoando vozes de luta e resiliência. “Com as nossas águas, cantos, corpos e tambores, realizamos a lavagem do 13 de Maio, reafirmando que estamos vivas, organizadas e em marcha! Que cada passo ecoe memória, que cada canto reverencie nossa ancestralidade”, afirmaram as organizadoras, ressaltando o que elas consideram um chamado à verdade e à visibilidade das questões raciais.

Daiane Pettine, diretora executiva do Ilú Obá de Min, recordou que a primeira lavagem da escadaria aconteceu há 36 anos, organizada pelo bloco ancestral Orí Axé. “Estamos aqui lavando a mentira da abolição”, destacou, sublinhando que a lavagem e o cortejo pelas ruas servem como uma plataforma para discutir e valorizar os direitos da população negra.

A escolha do Bixiga como local para o ato não é casual. O bairro, com uma rica herança cultural, além de ser conhecido por suas cantinas italianas, é também onde existiu o Quilombo Saracura, um espaço histórico de resistência. “Estamos falando de um território que possui conotações profundas em relação à cultura negra. O Bixiga é um lugar de lutas plural, e isso se reflete em nossa escolha de palco”, explicou Pettine.

O cortejo anual do Ilú Obá de Min é uma exibição vibrante de vozes, corpos e batuques, reafirmando a luta contínua por direitos e liberdade. “Estamos aqui para dizer que a abolição não ocorreu completamente. A luta pela igualdade e a reivindicação dos direitos ainda são extremamente atuais”, finalizou uma das participantes, ecoando o sentimento coletivo de resistência que permeia o evento.

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