Na próxima terça-feira, 25 de outubro, Brasília será palco da Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver, que retorna após uma década de sua primeira edição emblemática. O evento tem como objetivo chamar a atenção para o agravamento das desigualdades sociais e reforçar a luta por reparação histórica, justiça social e um futuro digno para todas as mulheres, especialmente as negras.
Esperamos um público diversificado que inclui mulheres de todos os estados do Brasil e mais de 40 países, com a expectativa de ultrapassar a marca de 100 mil participantes, alcançada na edição de 2015. Da cidade de São Paulo, pelo menos 13 caravanas estão se organizando para seguir rumo à capital federal, reunindo cerca de 350 mulheres. Iyáloriṣà Adriana t’Ọmọlú, integrante do Comitê Impulsor Nacional da Marcha, afirmou que a mobilização teve início em agosto do ano passado, envolvendo um trabalho coletivo que se destaca pela união de diversas instituições e movimentos sociais.
Adriana é uma das participantes que esteve presente na primeira Marcha e agora traz consigo experiências e aprendizados acumulados ao longo dos anos. Embora tenha enfrentado limitações de saúde que a impediram de participar ativamente em 2015, sua vivência e suas vivências coletivas são fundamentais para o evento deste ano. Para ela, o conceito de matriarcado é essencial, refletindo a força das mulheres negras e a importância de um espaço seguro e acolhedor.
Organizar um evento dessa magnitude não é tarefa simples. Adriana reconhece a necessidade de recursos financeiros para garantir a participação das mulheres, muitas das quais são mães solteiras ou têm compromissos profissionais. “Precisamos assegurar que todas as mulheres estejam presentes, para que possam gritar: ‘nós existimos’”, ressalta.
Para viabilizar a mobilização, o comitê organizador buscou apoio, obtendo uma emenda parlamentar da deputada federal Erika Hilton, que permitirá cobrir parte dos custos de transporte. Com isso, das 350 mulheres de São Paulo, 70 viajarão de avião e as demais serão transportadas em ônibus, com um dos veículos cedidos pelo Sindicato dos Especialistas em Educação do Ensino Público Municipal de São Paulo (Sinesp). A prioridade é proporcionar conforto aos membros mais vulneráveis do grupo, como mulheres idosas ou com dificuldades de mobilidade.
Adriana destaca o simbolismo da marcha, que representa a luta incessante das mulheres negras pela dignidade e pelos direitos fundamentais. Em um cenário político marcado pela ascensão do conservadorismo e pela erosão de direitos, o evento se torna ainda mais relevante. Para ela, é crucial promover a cultura negra e a ancestralidade, lutando por um reconhecimento que passe por uma perspectiva afrocentrada.
A Marcha não se encerra com o ato, mas é parte de um movimento contínuo que visa não apenas a sobrevivência, mas o fortalecimento das vozes femininas nas comunidades. Como afirma Adriana, “nossa preocupação é como continuamos essa luta em segurança, pensando no que acontece após a marcha, no retorno aos nossos territórios e na continuidade dessa batalha” por dignidade e direitos.
