DIREITOS HUMANOS – Itaú Cultural Lança Dossiê Acessibilidade para Integrar Pessoas com Deficiência na Produção Artística e Transformar Espaços Culturais em São Paulo

Na busca por uma inclusão efetiva das pessoas com deficiência no universo artístico, o Itaú Cultural lançou, em São Paulo, o Dossiê Acessibilidade. O documento, apresentado em um evento na última terça-feira, visa fornecer recursos e orientações a trabalhadores do setor cultural, abordando não apenas aspectos legais e estatísticos, mas também práticos. O objetivo central é garantir que essa parcela da população tenha pleno acesso à fruição artística.

A autonomia é um dos princípios fundamentais na defesa dos direitos das pessoas com deficiência. No entanto, especialistas presentes no evento observaram que, para os mais de 18 milhões de brasileiros com algum tipo de deficiência, esse direito é frequentemente negado, seja nas interações do cotidiano ou na apreciação de obras literárias e artísticas. Muitas organizações e artistas afirmam se preocupar com a acessibilidade, criando espaços que oferecem uma ou outra solução, como rampas de acesso ou a presença de intérpretes de Libras. Contudo, essa abordagem fragmentada não atende a todas as necessidades, como enfatizou Claudio Rubino, consultor de acessibilidade e produtor cultural.

Mariana Oliveira Arantes, pesquisadora na área, acrescentou que iniciativas de acessibilidade frequentemente falham em serem realmente eficazes, como quando um piso tátil, em vez de facilitar, acaba levando a um ponto sem saída, demonstrando a necessidade de uma abordagem mais abrangente e estética. O conceito de “cultura def”, proposto no dossiê, busca valorizar as diversas experiências e capacidades das pessoas com deficiência como parte integrante da cultura, evitando hierarquizações comuns em termos como “inclusão”.

Rubino ressaltou que a verdadeira transformação demanda um esforço conjunto, uma vez que a acessibilidade deve ser entendida como um processo colaborativo. Mariana, em suas observações sobre quase 200 espaços culturais em São Paulo, apontou a necessidade de uma atualização nas terminologias utilizadas por profissionais da cultura, alertando para o uso de expressões obsoletas que não refletem as demandas contemporâneas.

Participando da 1ª Congresso Internacional sobre Deficiência da Universidade de São Paulo, Arantes reafirmou que muitos projetos voltados para pessoas com deficiência falham devido à falta de interesse e disposição por parte dos profissionais sem deficiência. A pesquisadora enfatizou que a mudança de comportamento é mais crucial do que apenas investimentos em estrutura física.

Divina Prado, especialista em editoração, compartilhou experiências a partir de projetos desenvolvidos no Instituto Tomie Ohtake. Um deles, voltado para crianças com deficiência visual, utilizou múltiplas ferramentas sensoriais para facilitar a experiência artística. Prado destacou que, ao pensar em acessibilidade, é fundamental criar um ambiente que considera as particularidades de cada usuário, permitindo múltiplas formas de interação.

O Dossiê Acessibilidade ficará disponível para consulta no site do Itaú Cultural, servindo como um guia para profissionais do setor que desejam promover um verdadeiro ambiente inclusivo e acessível. A iniciativa marca um passo significativo em direção à democratização do acesso à cultura, reconhecendo a diversidade e complexidade das experiências de cada indivíduo.

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