Tenório, amplamente reconhecido na cena musical brasileira por sua habilidade em mesclar bossa nova e jazz, estava em turnê pela Argentina e Uruguai quando, após uma apresentação no icônico Teatro Gran Rex, saiu de seu hotel em Buenos Aires em busca de cigarros e remédios, perdendo-se assim para sempre. O músico foi sequestrado e, posteriormente, executado por agentes da referida operação militar. Seu corpo foi encontrado e enterrado como indigente no cemitério de Benavídez, numa história repleta de dor que não se limitou apenas à sua música, mas se entrelaçou com as lutas por justiça e memória na América Latina.
A identificação de Tenório Júnior como um desaparecido político foi confirmada por meio de impressões digitais em setembro deste ano pela Equipe Argentina de Antropologia Forense (EAAF). O músico tinha seu nome inscrito no Parque da Memória em Buenos Aires, um local que presta homenagem a todas as vítimas da ditadura argentina. A confirmação de sua identidade encerra um mistério de quase cinquenta anos, prolongando a busca por justiça àquelas famílias que viveram a dor do desaparecimento.
O evento no BNDES também reverberou a luta constante dos movimentos pelos direitos humanos, com a presença de familiares de Tenório Jr. e de outros desaparecidos, como o deputado Rubens Paiva. Foram notáveis as declarações da representante das Mães da Praça de Maio, Helena Molinaro, que ressaltou a importância de continuar a luta pela memória e justiça, contando a história de tantos que padeceram nas mãos do regime militar.
O movimento das Mães da Praça de Maio, surgido em 1977, tornou-se um símbolo internacional na defesa dos direitos humanos e da responsabilização das atrocidades perpetradas durante a ditadura na Argentina. O uso do lenço branco, que representa as fraldas dos filhos sequestrados, tornou-se um ícone dessa luta incansável.
Francisco Tenório Jr., carioca e referência no samba-jazz e na bossa nova, deixou um legado musical incomensurável, notável por colaborações com gigantes como Vinícius de Moraes e Milton Nascimento. Sua memória e história são agora parte não apenas do patrimônio cultural brasileiro, mas também de um clamor mais amplo por justiça e reconhecimento dos horrores vividos durante as ditaduras na América Latina.