Dentre os presentes, destacou-se Carlos Augusto Marighella, filho do guerrilheiro. Em seu discurso, ele falou com emoção sobre a convivência com Clara Charf, uma das esposas de seu pai e uma importante líder entre as mulheres militantes do período. Carlinhos, como é conhecido, recordou a influência de Clara, que ele descreveu como “um presente” em sua vida, ressaltando a determinação e a coragem dela em lutar por um mundo melhor.
“Eu nunca percebi em Clara uma única hesitação diante daquele mundo que ela queria construir”, comentou Carlinhos, referindo-se à indomável postura da ativista. Clara Charf, que faleceu no dia anterior à homenagem, aos 100 anos, era uma figura emblemática da luta contra a opressão.
O ato, embora carregado de dor pela perda de Marighella e de outros que lutaram pela democracia, também foi um momento de reflexão sobre a memória política do país. Carlinhos lembrou a covardia que resultou na morte de seu pai, destacando que os autores do crime são muitas vezes esquecidos, enquanto o legado de Marighella continua vivo. “Ele mobiliza a juventude, nos inspira a todos”, enfatizou.
Outros participantes, como Maurice Politi, do Núcleo de Preservação da Memória Política, reforçaram a importância do legado de Marighella, destacando sua luta por um Brasil mais justo e igualitário. Segundo Politi, Marighella foi um dos grandes guerreiros do povo brasileiro, que ofereceu sua vida pela libertação do país.
Carlos Marighella, considerado o “inimigo número um” da ditadura, teve uma trajetória marcada por sua resistência à opressão desde os seus 24 anos, ocasião em que foi torturado pela primeira vez. Sua vida e seus feitos ainda reverberam em protestos e ações contemporâneas, especialmente entre as novas gerações que buscam inspiração em sua luta.
Recentemente, o filme “Marighella”, dirigido por Wagner Moura, enfrentou censura sob o governo de Jair Bolsonaro, que efetivamente atrasou sua distribuição nos cinemas, evidenciando as tensões que ainda permeiam a discussão sobre liberdade de expressão no Brasil. O longa finalmente chegou aos cinemas coincidentemente no aniversário de Marighella, após ter sido exibido em festivais internacionais.
O ato de homenagem, cercado por memórias e reflexões, reiterou a necessidade de preservar a história e a luta por direitos num contexto de constantes ameaças à democracia.









