O quadro assistido por Damares é desolador. “O que está acontecendo ali é limpeza étnica. Esses atos podem ser considerados crimes de guerra, crimes contra a humanidade e até genocídio”, afirmou ela, sublinhando a gravidade da situação humanitária e a consulta à alimentação como uma arma de guerra. “A proibição de alimentos mina todas as possibilidades de sobrevivência, já que não há água, eletricidade, nem aquecimento para enfrentar o inverno.”
Os impactos são profundos: Israel tem bombardeado hospitais e escolas, restringindo também a circulação de veículos. Isso obriga as pessoas a percorrer longas distâncias em busca de alimentos escassos, expondo-as a novos ataques aéreos e de terra.
Recentemente, a MSF organizou um encontro na Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no Rio de Janeiro, onde médicos e enfermeiros relataram suas experiências na região devastada. Desde março, as restrições de suprimentos médicos impuestas por Israel têm intensificado a crise. O fechamento das fronteiras proibiu a entrada de materiais essenciais, exacerbando a situação.
A Faixa de Gaza é um território de alta densidade populacional, com aproximadamente 2,2 milhões de habitantes concentrados em apenas 15% do espaço disponível, uma condição piorada pelas ordens de despejo e militarização israelense. O conflito se intensificou após ataques do Hamas a vilarejos israelenses em outubro de 2023, resultando em um massacre que deixou cerca de 1,2 mil mortos e um saldo devastador de vítimas palestinas.
Os recentes bombardeios israelenses em Gaza já causaram mais de 56 mil mortes e feriram mais de 100 mil pessoas, além de arrasarem escolas, hospitais e outras infraestruturas essenciais. O objetivo declarado de Israel é resgatar reféns e eliminar o Hamas, mas a isso se soma um bloqueio rigoroso nas fronteiras, que agrava a crise humanitária.
Diante desta tragédia, a enfermeira Ruth Barros compartilhou suas experiências durante dois meses na região norte de Gaza. Anteriormente aos novos bombardeios, a disponibilidade de suprimentos, frutas e vegetais era razoável, mas a situação mudou drasticamente após o início do bloqueio. “As necessidades aumentaram enquanto nossa capacidade de resposta diminuía. O norte de Gaza é um cenário de destruição completa, com pessoas vivendo em tendas e todas as unidades de saúde devastadas”, frisou ela.
A pressão psicológica sobre a população é igualmente alarmante. Muitas crianças apresentam sintomas de estresse pós-traumático, enquanto adultos lutam contra a depressão. Ruth destacou que a situação básica de saúde está em colapso, a água e a comida são escassas e a desnutrição se alastrou.
O médico Paulo Reis, que coordenou um hospital de campanha, também pontuou que a quantidade de vítimas é sem precedentes. “Cada vez menos estruturas de saúde estão de pé. Fizemos entre 20 e 30 cirurgias diárias em vítimas de bombardeios. A frequência dos ataques é incessante, com explosões a cada momento, tornando impossível para as pessoas interromperem suas atividades cotidianas”, relatou.
O cenário humanitário em Gaza é, portanto, uma emergência crítica que exige atenção urgente e ação por parte da comunidade internacional para aliviar o sofrimento de milhões.