DIREITOS HUMANOS – Brasil responde melhor a golpe que EUA, diz professor de Harvard sobre a eficácia da defesa democrática diante de ameaças autoritárias.

Nesta terça-feira, o professor de ciência política da Universidade de Harvard, Steven Levitsky, deu uma palestra significativa no seminário “Democracia em Perspectiva na América Latina e no Brasil”, promovido pelo Senado. Levitsky, coautor do aclamado livro “Como as democracias morrem”, trouxe à tona a análise de como as democracias reagem a ameaças autoritárias, estabelecendo uma comparação entre a realidade brasileira e a situação nos Estados Unidos.

Durante sua apresentação, o professor destacou que, em resposta a tentativas de golpe de Estado lideradas por figuras políticas como o ex-presidente Jair Bolsonaro, o Brasil demonstrou uma resiliência e eficácia superior à resposta americana frente ao autoritarismo de Donald Trump. Ele elogiou a atuação da Suprema Corte Brasileira, que, segundo Levitsky, agiu de maneira decisiva para defender a democracia em um momento crítico. Em contraste, enfatizou que o Congresso e o Judiciário nos Estados Unidos falharam em cumprir seu papel na luta contra tendências autoritárias.

Uma das ironias apontadas pelo professor é que os Estados Unidos estão penalizando o Brasil por ações que eles próprios deveriam ter tomado há algum tempo. O país norte-americano impôs tarifas pesadas contra exportações brasileiras e iniciou investigações comerciais enquanto intervenções políticas de Trump no processo judicial envolvendo Bolsonaro chamam a atenção. Levitsky argumenta que a fragilidade da resposta americana se deve à ausência de uma memória coletiva de períodos autoritários, ao contrário do que ocorre na América Latina, onde diversas nações possuem experiências passadas com regimes autoritários.

Ele observou que as democracias atuais enfrentam desafios diferentes, uma vez que hoje, a erosão dos direitos democráticos ocorre não apenas por meio de golpes militares, mas através de líderes eleitos que buscam subverter as instituições democráticas. Esse ofensiva recente contra a democracia também é facilitada pelo contexto global, onde os valores liberais enfrentam dificuldades e as vozes autocráticas se tornaram mais influentes.

Levitsky fez alerta sobre o poder erosivo das redes sociais na desconfiança pública em relação às instituições democráticas, refletindo que uma significativa porcentagem da população latino-americana expressa descontentamento com a democracia. O descontentamento com desigualdade social e as crises econômicas e de violência na região contribuem para a ascensão de populistas e autoritários.

O professor destacou a necessidade de uma ação institucional forte e unida para proteger a democracia. Exemplos históricos de coligações entre partidos políticos para enfrentar extremismos foram citados como inspiração para o presente. Finalmente, Levitsky concluiu que, se as instituições falharem, a sociedade civil precisa assumir a responsabilidade de defender e fortalecer as normas democráticas, enfatizando a importância da liderança política e cívica para manter a integridade democrática.

O seminário também lançou a coletânea “Democracia Ontem, Hoje e Sempre”, que revisita momentos cruciais da história política brasileira, refletindo sobre a trajetória e os desafios atuais da democracia no país.

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