A nova iniciativa do governo pretende mobilizar diversos setores da sociedade para atuar contra a violência de gênero por meio de várias frentes. Essas ações incluem a assinatura de um manifesto, a realização de eventos e palestras sobre o tema, além da produção e divulgação de materiais gráficos e audiovisuais. A campanha está marcada para ser oficialmente lançada na próxima quarta-feira (7).
Durante o evento, a ministra expressou uma meta ambiciosa para a nova articulação. “Se a gente conseguir chegar em 31 de dezembro de 2026 com a maioria da sociedade dizendo que a violência contra as mulheres é crime, eu acho que a gente cumpriu um papel estratégico e fundamental”, afirmou Cida Gonçalves.
Os dados alarmantes do 18º Anuário Brasileiro de Segurança Pública do Fórum Brasileiro de Segurança Pública destacam a urgência deste movimento. O Brasil é o quinto país que mais mata mulheres no mundo. Segundo o anuário, a cada seis horas uma mulher é vítima de feminicídio no país; três a cada dez brasileiras já foram vítimas de violência doméstica; e a cada seis minutos, uma mulher ou menina sofre violência sexual no Brasil. Além disso, a cada 24 horas, 75 casos de importunação sexual são denunciados.
A Articulação Nacional pelo Feminicídio Zero também reforçará canais gratuitos de atendimento telefônico, como o Ligue 180, a Central de Atendimento à Mulher, o Disque Direitos Humanos (Disque 100) e o 190, da Polícia Militar, destinados a socorrer mulheres em situação de violência.
O movimento pretende engajar entidades empresariais como o Sebrae, a Fiesp, a Firjan, a CNI, além de empresas públicas, figuras públicas, movimentos sociais, e instituições esportivas, culturais e religiosas.
A ministra Cida Gonçalves também mencionou que há uma aproximação em andamento com líderes evangélicas para traçar diretrizes de combate ao feminicídio, que serão discutidas em setembro. Segundo ela, o movimento se esforça para evitar a polarização político-partidária do tema. “Até o fim do ano, eu quero visitar as igrejas, os pastores, os bispos e fazer esse movimento de trazer essas pessoas para esse debate,” disse a ministra.
A campanha também buscará engajar os clubes de futebol do país. Uma pesquisa de 2022 feita pelo Fórum de Segurança Pública em parceria com o Instituto Avon revelou que, em dias de jogos, a lesão corporal dolosa contra mulheres é 23,7% maior. Dirigentes de clubes como Corinthians, Flamengo, Vasco e Bahia já aderiram à mobilização inicial.
Respondendo à declaração polêmica do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o aumento da violência contra a mulher em dias de jogo, a ministra reforçou que não há espaço para piadas sobre esse tema. “Enquanto mulheres, temos que começar de novo a não aceitar a brincadeirinha,” comentou Cida Gonçalves.
Em relação ao congelamento de R$ 179,7 milhões no orçamento da pasta, a ministra argumentou que a redução será na área administrativa para preservar os recursos destinados às ações para as mulheres. Ela destacou a necessidade de mais recursos próprios e também mencionou a meta de aumentar o número de secretarias específicas para mulheres nos municípios e estados do país, visando uma maior capilaridade das políticas públicas voltadas para o gênero.
Atualmente, o número de secretarias específicas para mulheres não chega a 700, mas o objetivo do governo é alcançar pelo menos 2.000 secretarias municipais e estaduais, destacou a ministra. “Podem botar bilhões no Ministério das Mulheres, mas nós não temos como executar, se não tem secretaria das Mulheres no município,” concluiu.