O antropólogo e coordenador executivo do Observatório de Povos Indígenas Isolados, Fábio Ribeiro, destaca o atraso e a falta de ação do Estado em reconhecer a existência desses povos como uma questão crítica. O vazio entre a quantidade de registros existentes na Funai e as confirmações oficiais resulta em uma fragilização da política de proteção às terras indígenas. Ribeiro ressalta que a proteção desses povos depende da capacidade da Funai de apresentar provas concretas acerca da presença indígena em certos territórios.
As políticas de proteção incluem a criação de postos de vigilância, monitoramento aéreo e articulações institucionais com órgãos como a Secretaria de Saúde Indígena (Sesai). Marco Aurélio Milken Costa, coordenador geral de Povos Isolados na Funai, admite a existência de uma lacuna no reconhecimento de registros, mas discorda da ideia de que essa ausência aumente automaticamente a vulnerabilidade dos grupos. Ele explica que muitos povos isolados, mesmo sem reconhecimento formal, vivem em áreas sob proteção, como terras indígenas e unidades de conservação, o que oferece alguma segurança contra invasões.
Entretanto, Ribeiro alerta que os verdadeiramente vulneráveis são aqueles que habitam o Arco do Desmatamento, onde as florestas já foram fragmentadas e os povos ficam cercados por atividades de mineração, construção de estradas e expansão urbana. O território dos Ituna-Itatá, no Pará, exemplifica as dificuldades enfrentadas por essas comunidades, que, mesmo sob restrição de uso, sofreram um alto índice de desmatamento.
A crescente pressão sobre os territórios ocupados por essas comunidades, intensificada pelas mudanças climáticas e pelo aumento das atividades exploratórias, coloca em risco a sobrevivência dos povos isolados, que enfrentam uma realidade complexa e cada vez mais ameaçadora.
Esses grupos optam pelo isolamento por motivos trágicos, como experiências de violência extrema. Fábio Ribeiro explica que a confirmação da existência desses povos é complexa, realizada por meio de evidências e sinais de sua ocupação, como vestígios de habitação e agricultura, já que o princípio é garantir seu não contato com a sociedade envolvente. A burocracia que envolve a demarcação de terras, acrescida à dificuldade prática de realizar o reconhecimento em campo, complica ainda mais a situação desses povos ainda não confirmados pelo Estado.
Em resposta a esses desafios, a Funai está em processo de contratação de novos profissionais, incluindo servidores indígenas, para fortalecer sua atuação na proteção etnoambiental. A criação de condições adequadas para profissionais capacitados é imprescindível, dado que a atuação nas terras indígenas exige não apenas formação técnica, mas também um alto grau de resistência física e capacidade de análise das evidências que indicam a presença dos povos isolados.
