Desigualdade Global: 10% Mais Ricos Detêm 75% da Riqueza em Meio Século de Concentração Recorde de Renda e Propostas de Tributação Emergentes.

A desigualdade de renda no mundo alcançou um patamar alarmante, sendo a maior registrada nos últimos 30 anos. Os dados revelam que os 10% mais ricos da população global acumulam impressionantes 75% da riqueza total, enquanto os 50% mais pobres dividem apenas míseros 2%.

A situação torna-se ainda mais crítica quando observamos os 0,001% mais ricos, um grupo restrito de menos de 60 mil pessoas, que detém três vezes mais riqueza do que 2,8 bilhões de indivíduos. Essa realidade é destacada na terceira edição do Relatório Mundial sobre a Desigualdade, que analisa a concentração de patrimônio e renda em diversas regiões do mundo.

O relatório utiliza a definição de riqueza como o patrimônio líquido das pessoas, que abrange ativos financeiros e não financeiros, subtraindo-se as dívidas. Quando a análise é focada na renda, a discrepância é igualmente alarmante, com os 10% mais ricos apropriando-se de 53% da renda global, enquanto a metade mais pobre fica com apenas 8% desta receita. Em contrapartida, os 40% da classe média controlam 23% da riqueza e 38% da renda.

Esse crescimento desigual se acentuou nos últimos três decênios. De 1995 a 2025, a porção da riqueza do 0,001% mais rico saltou de 3,8% para 6,1%, enquanto os 50% mais pobres mantiveram sua participação estagnada em torno de 2% desde o início dos anos 2000. Os economistas envolvidos na elaboração do relatório avaliam que, apesar de algumas políticas públicas — em especial a tributação progressiva e as transferências de renda — terem conseguido mitigar parte da desigualdade desde os anos 80, a eficácia dessas medidas tem limites.

A análise das políticas redistributivas coloca em evidência que, na Europa, América do Norte e Oceania, tais medidas reduziram a desigualdade em mais de 30%. Entretanto, na América Latina, mesmo com avanços em determinados momentos, a concentração permaneceu elevada. O estudo salienta que os bilionários e centimilionários, muitas vezes, pagam menos impostos proporcionalmente do que as classes média e baixa, evidenciando uma regressividade no sistema tributário.

Thomas Piketty, economista à frente da pesquisa, alerta para uma possível piora na desigualdade, especialmente em regiões do Sul Global, onde muitos países enfrentam dificuldades orçamentárias que limitam investimentos em saúde e educação. Ele defende a necessidade de que a elite contribua mais, tanto em países desenvolvidos quanto em nações emergentes como Brasil e África do Sul.

Adicionalmente, o relatório apresenta propostas de tributação sobre fortunas, sugerindo um imposto anual de 3% sobre o patrimônio de bilionários e milionários, o que poderia gerar aproximadamente US$ 750 bilhões anualmente, valor suficiente para igualar o orçamento global de educação dos países em desenvolvimento. Um imposto de 2% sobre ativos superiores a US$ 100 milhões poderia arrecadar US$ 503 bilhões por ano, enquanto um tributo de 5% poderia levantar US$ 1,3 trilhões.

Assim, a implementação de políticas fiscais mais justas poderia proporcionar aos governos recursos essenciais para enfrentar desafios estruturais em educação, saúde e transição climática, sem sobrecarregar as classes média e baixa. A Justiça fiscal se mostra, portanto, como um passo vital na busca pela equidade social e econômica.

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