Acontece que, para se inscrever, ele precisava apresentar o CNPJ da empresa onde supostamente trabalharia além da carteira de trabalho. “Quando vi essas exigências, percebi que não conseguiria efetuar a matrícula”, relata o adolescente. A expectativa de arrumar um emprego e iniciar seus estudos foi rapidamente substituída por um sentimento de impotência. Ao invés de contribuir para a renda familiar, Daniel se viu forçado a manter sua rotina de aulas pela manhã.
Essas dificuldades surgiram devido a uma nova resolução do governo de São Paulo, que se intensificou nas diretrizes da educação estadual, contribuindo para a diminuição das turmas noturnas. As aulas à noite, uma alternativa vital para muitos estudantes e trabalhadores, sofreram um drástico corte nas últimas décadas. Um levantamento detalhou que mais de mil escolas estaduais deixaram de oferecer esse formato, com uma redução estimada de cerca de 11 mil turmas em dez anos.
Entre 2024 e 2025, durante a gestão do governador Tarcísio de Freitas, a queda percentual de turmas noturnas foi a maior da década, atingindo 13,84%. A situação se agrava quando se considera que, em 2015, existiam 2.803 escolas estaduais com aulas à noite e, atualmente, este número caiu para 1.633. A E.E. Brigadeiro Gavião Peixoto, onde Daniel estuda, exemplifica a situação: de 33 turmas noturnas em 2015, agora restam apenas sete.
A redução no número de turmas impacta não apenas os estudantes, mas também as famílias que dependem da renda suposta que esses jovens poderiam ajudar a gerar. Tatiane Ferreira, uma residente de Perus, testemunhou a frustração de muitos. “Vários alunos partiram para estudar em outras áreas por conta da falta de vagas à noite”, conta, mencionando que seu filho foi um deles, após um longo processo em busca de matriculas em locais alternativos sem sucesso.
Com a implementação de novas exigências para a matrícula no ensino noturno, muitos estudantes são deixados à mercê de um sistema que não reconhece sua realidade. A gestão estadual, por outro lado, justifica que essa reestruturação é uma melhoria na oferta de educação, visando atender a um número crescente de alunos em outras modalidades, como o ensino técnico integrado ao médio, que obteve um crescimento significativo. Assim, o governo se compromete a buscar soluções para reengajar esses jovens, apesar das evidências de que muitos alunos permanecem sem oportunidades adequadas de estudo e trabalho.
Essa situação gera uma preocupação evidente quanto à real intenção de promover uma educação inclusiva que atenda às demandas do complexo cenário social atual. Os desafios enfrentados por Daniel e tantos outros representam questões críticas que necessitam de uma reflexão urgente por parte das autoridades educacionais em São Paulo.
