Descobertos dois novos núcleos no esquema de espionagem ilegal da Abin durante governo Bolsonaro: o “núcleo presidência” e “vetor de propagação”.

A Polícia Federal desvendou recentemente dois novos núcleos envolvidos no esquema de espionagem ilegal da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo de Jair Bolsonaro. Os grupos identificados foram denominados de “núcleo presidência” e “núcleo vetor de propagação”.

Segundo as investigações, esses núcleos eram abastecidos pelo chamado “núcleo estrutura paralela”, composto pelo policial federal Marcelo Borvemet e pelo militar do Exército Giarcarlo Gomes Rodrigues, ambos ex-servidores cedidos à Abin. Eles recebiam ordens do ex-diretor da agência e deputado federal Alexandre Ramagem, e foram alvos de mandados de prisão preventiva concedidos pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes.

Utilizando ferramentas e sistemas da Abin, esse grupo repassava dossiês e informações para serem disseminadas por influencers ligados ao “gabinete do ódio”. Ministros do STF, ex-presidenciáveis, parlamentares e jornalistas considerados críticos ao governo de Bolsonaro eram os principais alvos desse esquema, conforme apontado pelas investigações.

Os integrantes da Abin se referiam aos ativistas digitais como “malucos” e mantinham conversas com eles por meio de perfis falsos. Os diálogos interceptados pela PF revelaram a intencional divulgação de informações falsas sobre autoridades da Suprema Corte e seus familiares.

Além disso, foi descoberto que o núcleo “presidência” atuava como ponto de contato entre o Palácio do Planalto e os influenciadores do “gabinete de ódio”. Membros desse grupo incluíam Mateus de Carvalho Sposito e Daniel Lemos, que mantinham supostamente “linha direta com o presidente”, segundo mensagens interceptadas.

A Procuradoria-Geral da República destacou que a divisão em diferentes núcleos servia como estratégia para se distanciar dos reais beneficiários políticos da desinformação disseminada. Foi revelado que a Abin utilizava um programa secreto denominado FirstMile para monitorar a localização de alvos específicos por meio de seus celulares. Este programa foi empregado para vigiar políticos, jornalistas e opositores do governo.

Como consequência, foram abertos inquéritos envolvendo policiais federais, servidores da Abin, ex-diretores da agência e inclusive o vereador do Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro, por sua alegada participação na “Abin paralela”. Todos os envolvidos negaram atividades criminosas e afirmaram estar colaborando com as investigações em curso.

Por sua vez, a Abin afirmou que tem colaborado com as autoridades competentes desde que os fatos vieram à tona. A agência ressaltou seu interesse em uma investigação rigorosa para esclarecer os acontecimentos ocorridos durante o período em que a ferramenta de geolocalização foi utilizada de forma inadequada. A Abin se comprometeu a continuar colaborando com as investigações em andamento para esclarecer detalhes sobre o escândalo de espionagem ilegal no governo Bolsonaro.

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