Descobertas Revelam Tell Abraq como Centro Comercial e Espiritual no Antigo Golfo Pérsico

Recentes escavações e análises da Missão Arqueológica Italiana em Umm al-Quwain trouxeram novas perspectivas sobre o antigo assentamento de Tell Abraq, destacando sua importância como um centro comercial estratégico no passado. Este local, situado na costa oeste dos Emirados Árabes Unidos, revela-se como um dos sítios arqueológicos mais significativos da região do Golfo Pérsico.

Estudos recentes indicam que, apesar de Tell Abraq nunca ter feito parte de grandes sistemas estatais como os da Mesopotâmia, estava profundamente integrado às redes de comércio e cultura que moldaram a dinâmica da área. As escavações confirmaram a existência de duas fases de intenso intercâmbio cultural: uma no final da Idade do Bronze, datada entre 1600 e 1300 a.C., e outra entre os séculos I e III d.C.

Uma das descobertas mais notáveis na região foi uma estrutura monumental de pedra, construída entre os séculos XIV e XIII a.C. Este edifício apresenta características arquitetônicas distintivas, como paredes unidas por uma argamassa cuja técnica não foi encontrada em nenhuma outra construção na Arábia. Dentro dessa estrutura, os arqueólogos desenterraram um esconderijo de cerâmicas importadas, incluindo jarros feitos de argila densa típica do sudeste do Irã, adornados com selos cilíndricos que sugerem sua origem na Mesopotâmia e no Elam.

A pesquisa revelou que Tell Abraq poderia ter funcionado não apenas como um depósito de mercadorias, mas também como um ponto de controle comercial. Os arqueólogos descobriram cavidades específicas no solo projetadas para armazenar os jarros, indicando que mercadorias eram processadas ali. A localização impressionante do assentamento, em um período em que o comércio no Golfo Pérsico era fortemente influenciado por potências externas, ressalta sua relevância.

Durante os séculos I a III d.C., Tell Abraq começou a se transformar, deixando de ser apenas uma área residencial para se tornar abrigando pequenos templos e altares ao ar livre. A equipe de pesquisa encontrou uma coleção rica de artefatos, que incluem estatuetas de barro e bronze em estilo helenístico, além de moedas que revelam interações econômicas complexas com regiões longínquas, como o Levante, o sul da Mesopotâmia e até mesmo a Índia.

Essas descobertas sublinham a interconexão das civilizações da época e afirmam que Tell Abraq era um importante ponto de trânsito espiritual para mercadores, que frequentemente buscavam proteção divina antes de embarcar em jornadas pelo Golfo Pérsico. A presença de um templo próximo, dedicado ao deus Sol, reflete essa prática.

Os pesquisadores notaram um padrão claro: a quantidade de mercadorias exóticas aumentava significativamente em períodos de intensa atividade política na região. Apesar dessas mudanças, Tell Abraq demonstrou uma capacidade de adaptação, evoluindo de um centro de habitação para um posto de controle comercial e, finalmente, para um santuário. Assim, a modesta elevação onde se ergue o assentamento se tornou um ponto crucial nas redes comerciais do passado, onde mercadores de diferentes partes do mundo paravam para negociar e buscar refúgio antes de continuar suas jornadas pelos mares que conectavam os continentes.

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