As estruturas em forma de V, construídas para direcionar vicunhas para cercados circulares, foram localizadas em encostas a mais de 2.700 metros de altitude. Isso sugere não apenas um planejamento engenhoso, mas também uma compreensão profunda do ecossistema local. A mapeação feita por Oyaneder abrangeu 4.600 quilômetros quadrados na região do Vale do Rio Camarones, revelando uma complexa rede de acampamentos sazonais utilizados por caçadores que praticavam um modo de vida não apenas voltado para a caça, mas que também integrava a agricultura e o pastoreio.
Os novos dados obtidos contradizem teorias de que a caça nos Andes tenha desaparecido em torno de 2000 a.C. Os registros históricos, principalmente os coloniais, já faziam menção a comunidades indígenas Uru ou Uro que habitavam essas montanhas. Agora, a arqueologia tem a chance de afirmar esses relatos com evidências materiais sólidas. Além disso, as armadilhas encontradas são comparáveis às “pipas do deserto”, com a mesma função de captura de animais selvagens, demonstrando um exemplo significativo de desenvolvimento tecnológico autônomo.
Em uma época em que a narrativa sobre a transição de sistemas de subsistência, como da caça para a agricultura, frequentemente simplifica as realidades complexas das sociedades, as descobertas no norte do Chile servem para enriquecer a compreensão da rica tapeçaria cultural dos Andes. A contínua prática da caça, em conjunto com outras atividades econômicas, redefine a história dessa região, apresentando um modelo de coexistência e adaptação que durou por séculos. Essa pesquisa não só expande o nosso conhecimento sobre a história andina, mas também nos oferece uma nova visão sobre a resiliência das sociedades que ali habitaram.









