Os arqueólogos localizaram dois sítios distintos onde as impressões fossilizadas foram preservadas. Na Praia do Telheiro, uma única pegada com 22,6 cm de comprimento foi encontrada, e na praia de Monte Clérigo, foram identificadas cinco sequências de pegadas, totalizando 26 marcas. A importância desses achados é ainda mais ressaltada por serem as primeiras evidências de antigos hominídeos encontradas no território português.
Utilizando a técnica de datação chamada luminescência ópticamente estimulada, os pesquisadores conseguiram determinar a idade das pegadas. Essa técnica, que mede o tempo desde que os sedimentos foram expostos à luz, permite uma compreensão mais precisa do período em que os neandertais habitaram essa área.
O estudo foi liderado por Carlos Neto de Carvalho, do Geopark Naturtejo Mundial da UNESCO, em colaboração com cientistas de diversos países, incluindo Gibraltar, Dinamarca, Espanha, Itália e China. A equipe acredita que essas evidências são cruciais para mapear a migração e a adaptação dos neandertais em ambientes costeiros.
Para colocar essa descoberta em perspectiva, vale lembrar que as pegadas mais conhecidas de hominídeos, as de Australopithecus afarensis, foram encontradas na Tanzânia nas décadas de 1970. Essas marcas na África fornecem informações vitais sobre os passos dos primeiros humanos e sua evolução, e agora, os achados em Portugal podem adicionar novos capítulos a essa fascinante narrativa.
Essas pegadas na costa do Algarve não são apenas um testemunho do passado, mas também uma janela para o entendimento das interações e adaptações dos neandertais em um ambiente que, na época, era muito diferente do que conhecemos hoje. Essa descoberta representa um marco na arqueologia portuguesa e promete inspirar novas pesquisas sobre a história dos primeiros humanos na Europa.