As contas, feitas principalmente de conchas, além de pedras e ossos, foram identificadas como parte de trajes cerimoniais usados por mulheres em rituais significativos. De acordo com especialistas, essas vestimentas eram pesadas e projetadas especificamente para ocasiões especiais, em lugar de uso cotidiano. O brilho e a iridescência das conchas contribuíam para a estética dos trajes, simbolizando um status elevado dentro da comunidade.
Leonardo García Sanjuán, professor de pré-história na Universidade de Sevilha, destaca que essa coleção não apenas ilustra a habilidade artesanal da época, mas também sugere que as mulheres desempenhavam papéis significativos nas hierarquias sociais de Valencina de la Concepción. A análise morfométrica e a datação por radiocarbono foram utilizadas para investigar a procedência e o uso dessas contas, revelando que a produção exigiria o trabalho coordenado de cerca de dez pessoas ao longo de 206 dias.
O contexto histórico é ainda mais intrigante, pois sugere a possibilidade de um matriarcado emergente em uma época em que sociedades mais hierárquicas estavam se solidificando na Europa. Marta Díaz-Guardamino, professora associada de arqueologia na Universidade de Durham, enfatiza a relevância das plantas encontradas nas perfurações das contas, que indicam o uso de linhas, provavelmente utilizadas para compor os trajes.
Essas descobertas no Montelirio não apenas oferecem um vislumbre sobre as práticas funerárias e a vida social daquelas mulheres, mas também recontextualizam a história da região, destacando a importância das mulheres em uma sociedade que, até então, era muitas vezes subestimada em suas contribuições. Continuar a adentrar na complexidade desses relatos arqueológicos fornecerá uma compreensão mais profunda sobre as sociedades do passado e suas dinâmicas sociais.