Desassociação nas Testemunhas de Jeová: Histórias de sofrimento e isolamento entre mães e filhos devido ao ostracismo religioso.

A desassociação dentro da religião Testemunhas de Jeová é um processo controverso e doloroso, especialmente para aqueles que, como Lara do Prado de Sousa, acabam perdendo laços familiares significativos. Com 28 anos e uma trajetória marcada por 23 anos de dedicação à igreja, Lara vivenciou o impacto devastador dessa prática ao ser expulsa após assumir sua bissexualidade e começar a questionar as doutrinas da fé que a moldou durante a juventude.

O procedimento de desassociação é oficialmente abordado pela organização religiosa, que defende que a separação serve para manter a “pureza” da congregação. Nas entrelinhas, a prática implica em um ostracismo rigoroso, no qual os membros são instruídos a evitar qualquer contato com aqueles que foram desassociados. Para Lara, isso se traduziu em um luto peculiar: apesar de sua mãe ainda estar viva, ela se sentia como se tivesse perdido uma figura materna que antes esteve sempre ao seu lado. O processo emocional foi devastador, levando-a a experimentar noites de sofrimento profundo, angustiando-se ao imaginar celebrações futuras sem a presença da mãe, que permanece fiel à religião.

Lara relata que a separação causou não apenas o fim de uma relação, mas um isolamento solidão que é comum entre muitos ex-membros. Em seu caso, a mãe tentava convencê-la a permanecer na fé, até que a expulsa não pôde mais contatar sua família. Mesmo antes da desassociação, Lara já antecipava a dor que viria. O ensinamento de priorizar as regras religiosas sobre as relações familiares e o amor é uma doutrina que permeia a cultura dentro das Testemunhas de Jeová, dificultando a aceitação de membros que desautorizam o sistema.

Nos dois últimos anos, Lara teve apenas três encontros com a mãe, e sua relação com irmãs e outros familiares também se deteriorou. Este afastamento involuntário se torna uma fonte de dor tanto para os que saem quanto para aqueles que permanecem, deixando um legado de sofrimento e solidão.

A história de Lara exemplifica o impacto emocional severo da desassociação, um padrão que se repete para muitos ex-membros. O controle exercido pela religião, normalmente disfarçado como proteção, revela-se uma forma de abuso que pode levar pessoas ao desespero e solidão. A luta de Lara não é apenas pessoal, mas representa um apelo para um debate mais amplo sobre a liberdade de crença e o respeito aos laços familiares, mesmo quando as crenças divergem. A reconstrução de sua rede de apoio e os esforços para reatar laços familiares fragilizados são parte de um processo doloroso, mas necessário, em sua jornada de recuperação emocional e busca por aceitação.

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