Desafios de Tainá de Paula: ‘É quase impossível fazer política com segurança sendo mulher negra’

Tainá de Paula, a secretária municipal do Meio Ambiente e Clima do Rio de Janeiro, tem se tornado uma figura emblemática na luta por igualdade e inclusão ambiental em um cenário onde a política brasileira frequentemente representa desafios imensos para mulheres, especialmente aquelas que são negras. Em uma recente entrevista, Tainá compartilhou sua perspectiva sobre os obstáculos que enfrenta como mulher negra na política e a importância de incorporar as vozes das periferias nas políticas climáticas.

Nascida na Praça Seca, um bairro da Zona Oeste do Rio, Tainá reconhece que sua origem periférica moldou sua visão e suas estratégias na formulação de políticas públicas. Ela defende a ideia de que as experiências vividas nas comunidades mais vulneráveis oferecem insights valiosos para a construção de soluções que atendam às necessidades reais da população. Para ela, a transformação das favelas em áreas que possam incluir e favorecer a natureza é essencial. Isso inclui a criação de parques urbanos que não apenas ampliam as áreas verdes, mas também promovem a interação entre os habitantes e o meio ambiente.

“A Praça Seca é a base de toda a minha trajetória. No entanto, não é apenas o meu papel como arquiteta urbanista que importa, mas a vivência que tive e o lugar de onde venho que realmente orientam o que defendo enquanto política pública”, enfatizou Tainá. A secretária também destaca a importância do investimento em políticas públicas voltadas para o clima, afirmando que o Rio de Janeiro nunca dispunha de tantos recursos voltados para a resiliência climática quanto atualmente nas leis orçamentárias.

Contudo, o caminho não é fácil. Tainá tem lidado com desafios pessoais significativos, incluindo um atentado recente que ressaltou a insegurança a qual os ativistas e as mulheres na política estão expostos. Ela enfatiza que é crítico desenvolver políticas que não apenas combatam a misoginia, mas que garantam segurança e apoio financeiro para que as mulheres possam continuar no espaço político sem medo.

O assassinato da vereadora Marielle Franco continua a ressoar profundamente, simbolizando as violentas adversidades enfrentadas por mulheres negras na política. Para Tainá, proteger líderes como Marielle é vital para assegurar que vozes femininas e negras tenham espaço nas decisões políticas. Em um contexto mais amplo, Tainá reforça a necessidade de não apenas reduzir as emissões de gases de efeito estufa, mas de garantir que as comunidades vulneráveis sejam ativamente incluídas nas discussões sobre mudanças climáticas, promovendo uma abordagem que respeite e valorize suas especificidades e necessidades.

A próxima COP30, que ocorrerá em Belém, reforça essa urgência, apresentando uma oportunidade crucial para o Brasil estabelecer metas concretas e um compromisso com políticas que transformem a agenda climática, colocando em primeiro plano aqueles que mais sofrem com os efeitos das mudanças climáticas. Tainá de Paula, com sua trajetória e visão, se destaca como uma voz forte e necessária neste debate.

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