A polêmica começou quando Eduardo Bolsonaro comparou a produção da TV Cultura ao discurso de um deputado de esquerda, classificando-a como “jornalismo militante”. O deputado ainda alegou que a emissora ataca o agronegócio brasileiro, um setor responsável por quase metade das exportações do país. Em uma postagem em uma rede social, Eduardo afirmou que tirou a foto da produção da TV Cultura, mas não informou em que dia a imagem foi registrada, nem forneceu detalhes sobre em qual programa do canal de TV o vídeo foi veiculado.
Por sua vez, Fabio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação Social da gestão de Jair Bolsonaro, também se posicionou contra a rede de televisão, chamando de “inadmissível” o ataque a um dos setores produtivos do Estado de São Paulo. O ex-presidente da Fundação Palmares, Sergio Camargo (PL), sugeriu que o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), ex-ministro de Bolsonaro, precisa “desaparelhar” a estatal paulista.
A TV Cultura foi procurada para comentar as críticas, mas não respondeu até a publicação desta reportagem. Eduardo Bolsonaro, por sua vez, não retornou aos contatos para esclarecer a questão.
Essa não é a primeira vez que a TV Cultura entra em conflito com os bolsonaristas. Em abril, a emissora apagou de sua conta no YouTube um documentário crítico à extrema-direita após pressão de Eduardo Bolsonaro. A ação foi classificada como “censura” pelos funcionários da emissora, mas a TV negou interferência política na programação.
O embate entre o canal de TV e bolsonaristas não é novo, e a ideia de que a TV Cultura precisa ser reestruturada é popular entre os apoiadores do ex-presidente. Eles acreditam que o ex-governador de São Paulo João Doria teria nomeado antibolsonaristas para comandar a emissora, e frequentemente solicitam que Tarcísio modifique os cargos na rede de televisão.
A Fundação Padre Anchieta, responsável por estabelecer as diretrizes da programação da TV Cultura, tem sido palco de disputas entre apoiadores e críticos de Bolsonaro. O governador Tarcísio foi pressionado a substituir a secretária de Cultura, Marília Marton, por um nome alinhado ao bolsonarismo. No entanto, a secretária não tem ingerência sobre a programação da emissora, que é controlada pela FPA.
O conselho curador da fundação é composto por 47 vagas, e controlar o maior número possível de vagas da entidade é uma meta do bolsonarismo no Estado de São Paulo. No fim de outubro, o deputado estadual Tomé Abduch (Republicanos), alinhado ao bolsonarismo, assumiu uma posição no conselho curador da FPA, expressando sua intenção de concentrar seus esforços como conselheiro para manter a neutralidade da TV Cultura.