O ator e deputado Mário Frias, ex-secretário de Cultura no governo Bolsonaro, está à frente do projeto cinematográfico que se propõe a glorificar o ex-presidente por meio da dramatização de sua história, especialmente o episódio da facada recebida em 2018. O filme será dirigido pelo cineasta Cyrus Nowrasteh e interpretado pelo ator norte-americano Jim Caviezel, prometendo uma produção que terá o inglês como língua principal.
Em contraponto, a Acadêmicos de Niterói vai levar para o desfile na Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro, um samba-enredo intitulado “Do alto do mulungu surge a esperança: Lula, o operário do Brasil”. O enredo vai retratar a trajetória de Lula, desde a infância humilde em Garanhuns até sua ascensão política.
Entretanto, especialistas em ciência política expressam ceticismo sobre a eficácia destas iniciativas em atrair novos eleitores. Cláudio Couto, professor da Fundação Getulio Vargas, afirma que ambos os projetos tendem a ressoar principalmente dentro de suas respectivas bolhas. Para ele, o filme provavelmente impactará mais a base já fiel a Bolsonaro do que conquistará novos votos. Ele adverte que, para uma produção cultural efetivamente influenciar a opinião pública, seria necessário algo excepcional.
João Feres, professor do IESP da UERJ, acrescenta que o samba-enredo e a produção cinematográfica têm seu alcance limitado. O Carnaval, embora uma forte expressão cultural, pode não ter o mesmo efeito que mobilizações políticas mais abrangentes, especialmente na era em que muitos celebram em desfiles menores, fora das grandes escolas de samba.
Apesar de suas intenções, tanto “Dark Horse” quanto o samba-enredo dedicado a Lula parecem reforçar narrativas já bem conhecidas pelos eleitores, com pouco potencial para surpreender ou conquistar novos apoios. Rosemary Segurado, professora da PUC-SP, ressalta que as produções simetricamente opostas refletem as dinâmicas das respectivas bases eleitorais: enquanto o samba celebra uma trajetória popular, o filme parece ser uma contínua construção de uma imagem idealizada de Bolsonaro.
Em última análise, a eficácia das manifestações culturais na polarizada arena política brasileira permanece incerta. Com a proximidade da eleição, será crucial observar como esses elementos poderão ser explorados pelos candidatos envolvidos, especialmente em um cenário marcado pela incerteza e pela fragmentação do eleitorado.
