CULTURA – Arte e memória se encontram na Exposição “Lacuna: Sismografia de Memórias”

Exposição transforma dor em arte e reafirma a potência cultural alagoana diante do desastre da Braskem

A Biblioteca Pública Estadual Graciliano Ramos, abriu as portas para um encontro entre memória, arte e resistência. Desde a última segunda-feira (1º), está em cartaz a exposição “Lacuna: Sismografia de Memórias”, que reúne obras de cinco artistas diretamente atravessados pelo maior desastre socioambiental da capital: o afundamento dos bairros provocado pela mineração da Braskem.

Com curadoria de Kelcy Ferreira e recursos da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB), por meio do Ministério da Cultura (Minc) e da Secretaria de Estado da Cultura e Economia Criativa (Secult), a mostra se insere no cenário artístico alagoano como um marco de criação coletiva e compromisso com a memória.

Cada obra exposta carrega marcas de dor, mas também de permanência. O cearense radicado em Alagoas Germano Munganga apresenta telas em que caos e cor se reorganizam como novas expressões de vida. O maceioense Diego Barros, morador do Pinheiro, mergulha em espiritualidade e memória em sua produção multidisciplinar. O autodidata Emerson Anun, ex-morador do Bebedouro, materializa sua experiência em “Enquanto Eu Dormia”, obra em lambe-lambe e zine que revela a angústia da perda. O educador e artista Pierre D’Almeida, ex-morador do Pinheiro, traz a força do teatro e dos bonecos em uma criação interativa inédita. Já o artista multimídia Pedro Carvalho, também ex-morador do Pinheiro, apresenta talvez uma das peças mais simbólicas da mostra: a porta do estúdio que manteve no bairro.

“Eu fui um dos últimos moradores a sair de lá, saí com muita tristeza. Essa obra representa um pouco de como me senti nesse processo. Por essa porta passaram muitos artistas e muita arte. Ela está marcada por sangue, por ganância…”, relata o artista.

Mais que uma exposição, “Lacuna: Sismografia de Memórias” é um grito coletivo que atravessa a cidade. Na Biblioteca Pública, as obras transformam o silêncio em diálogo, reafirmando a potência da arte alagoana como lugar de memória, denúncia e elaboração do trauma. Até o fim da mostra, o público é convidado a se somar a essa escuta coletiva e a reconhecer na arte um caminho de permanência diante do esquecimento.

SERVIÇO

Exposição: Lacuna: Sismografia de Memórias
Período: 1º a 30 de setembro de 2025
Local: Biblioteca Pública Estadual Graciliano Ramos — Praça São Pedro, Centro, Maceió/AL
Curadoria: Kelcy Ferreira
Artistas: Munganga, Diego Barros, Pierre D’Almeida, Emerson Anun e Pedro Carvalho
Entrada: Gratuita

*Com assessoria

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