Crise entre a República Democrática do Congo e Ruanda: especialistas analisam os bastidores do conflito em entrevista ao podcast Mundioka.

Crise entre a República Democrática do Congo e Ruanda: Especialistas analisam os bastidores

Recentemente, a ministra das Relações Exteriores da República Democrática do Congo (RDC), Thérèse Wagner, alertou para uma ofensiva sem precedentes das Forças Armadas ruandesas no leste do país, desencadeando uma violação da soberania e sendo considerada uma “declaração de guerra”. Esse conflito, que envolve acusações mútuas entre RDC, Ruanda e a Organização das Nações Unidas (ONU), está centrado no apoio de Ruanda aos rebeldes da milícia de etnia tutsi Movimento 23 de Março (M23).

De acordo com especialistas entrevistados no podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, Charly Kongo, professor de francês e refugiado no Brasil há mais de 15 anos, traça a origem do conflito há mais de 30 anos, ligando-o ao genocídio em Ruanda em 1994. Após o genocídio, refugiados tutsis e hutus se abrigaram na RDC, incluindo aqueles que participaram do massacre. Essa mistura étnica gerou tensões que culminaram na formação do M23 em 2009, com apoio de Ruanda.

A tomada da cidade de Goma pelo M23 na semana passada evidenciou a fragilidade do governo congolês em defender seu território, especialmente considerando a presença da milícia ruandesa Força Democrática pela Liberação de Ruanda (FDLR), formada por filhos dos hutus genocidas. O especialista Charly Kongo ainda destaca a questão dos recursos naturais, como o coltan, presente na região e disputado pelas várias milícias atuantes na área.

Outro ponto levantado por Laurindo Tchinhama, professor especialista em estudos de paz na RDC, é a incapacidade histórica do país em manter o monopólio da violência e a presença de mais de 100 milícias na região. Apesar do risco de desestabilização na África, Tchinhama descarta essa possibilidade, apontando para a preocupação de países vizinhos como Burundi, Tanzânia e Angola.

No entanto, a falta de destaque na mídia internacional para o conflito na RDC é lamentada pelos especialistas, que pedem uma maior atenção e ação internacional para resolver a crise e garantir a segurança da população do país, que continua sendo afetada por essa série de conflitos históricos e atuais. Eles acreditam que, com a participação de atores internacionais e pressão externa, as negociações podem avançar e trazer uma solução para a crise entre RDC e Ruanda.

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