Crise diplomática entre EUA e África do Sul por Israel pode impactar presidência do G20 em 2025 e agravar tensões raciais pós-apartheid.

A crise diplomática entre os Estados Unidos e a África do Sul, que teve seu início com a expulsão do embaixador sul-africano, Ebrahim Rasool, pelos EUA, levanta preocupações significativas sobre as relações internacionais e as implicações para o G20, do qual a África do Sul preside atualmente. A decisão de Washington de declarar Rasool como “persona non grata”, após comentários que ele fez sobre a discriminação racial e as mudanças demográficas nos EUA, foi recebida com desapontamento em Pretória, que clama por um diálogo respeitoso e construtivo entre as partes.

O secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, justificou a expulsão com a alegação de que Rasool fazia “ataques raciais” e críticas ao governo Trump. Especialistas em relações internacionais, como o professor Pablo Braga, consideram este momento como um dos mais severos nas relações entre os dois países desde o fim do apartheid. A relação já estava tensa por causa da postura da África do Sul em relação a Israel, que acusa as autoridades israelenses de genocídio contra os palestinos. Essa questão ressoa profundamente na sociedade sul-africana, que se identifica historicamente com a luta pela liberação do povo negro sob o regime do apartheid.

Ademais, a administração Trump interrompeu a ajuda humanitária à África do Sul, citando a discriminação percebida contra a minoria branca no país, um tema que gera intensos debates. Essa decisão se entrelaça com as políticas de redistribuição de terras que busca corrigir as desigualdades raciais remanescentes da era do apartheid. A tensão aumentou quando a prefeitura de Joanesburgo decidiu renomear uma rua em homenagem a uma ativista palestina, o que provocou ameaças de fechamento do consulado dos EUA.

As repercussões dessa crise não se restringem apenas aos laços bilaterais, mas também influenciam o G20. As conversações e atividades do grupo, que incluem discussões sobre transição energética, segurança alimentar e regulação da inteligência artificial, poderão ser severamente afetadas pela falta de participação ativa dos Estados Unidos, conforme especialistas preveem. A África do Sul, que busca reforçar sua posição como líder no continente africano, deve encontrar um equilíbrio delicado entre manter seus princípios e preservar relações comerciais vitais, especialmente com os EUA, que foi o segundo maior parceiro comercial do país entre 2021 e 2022.

Essa conjuntura evidencia não só uma crise diplomática, mas também a complexidade das relações internacionais contemporâneas e o desafio de conciliar interesses nacionais com o desenvolvimento de uma agenda global que beneficie a todos. A resposta da África do Sul a esta situação poderá redefinir sua trajetória no cenário global, especialmente em um momento em que questões como a migração, as disparidades econômicas e a luta pela justiça social são mais relevantes do que nunca.

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