Controle de Dados: Soberania Nacional em Jogo, Avisa Especialista sobre Impacto das Big Techs

Soberania Digital: A Luta pelo Controle de Dados na Era da Inteligência Artificial

A crescente dependência da inteligência artificial (IA) por grandes empresas de tecnologia levanta questões cruciais sobre soberania nacional e controle de dados. Especialistas afirmam que a capacidade de manipular e monetizar informações pessoais está se tornando um dos pilares da economia digital, o que exige uma nova abordagem regulatória e sociopolítica.

Henrique Sá Earp, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e vice-diretor do Centro Brasileiro de Geometria, aponta que os dados que os usuários compartilham nas redes sociais são uma forma valiosa de “matéria-prima” na era da tecnologia. Ele destaca que as empresas que acumulam esses dados, como Meta e Google, não apenas controlam um vasto mercado, mas também influenciam decisões políticas e a forma como as democracias operam. O caso da Cambridge Analytica é um exemplo emblemático, onde dados pessoais foram explorados para manipulação eleitoral em larga escala.

A relação geopolítica entre países desenvolvidos e em desenvolvimento também é evidenciada. Enquanto nações como Estados Unidos e China dominam a coleta e o uso de dados, muitos países do Sul Global, como o Brasil, permanecem numa posição subalterna, gerando dados sem retorno significativo. Earp alerta que essa dinâmica não só reforça um papel de inferioridade, mas também impede que países em desenvolvimento desfrutem dos benefícios da economia digital.

Recentemente, a cúpula do BRICS no Rio de Janeiro destacou a necessidade de uma governança global em torno da IA, com um apelo para que as Nações Unidas liderem esse esforço. A declaração enfatizou a importância da proteção de dados pessoais, a redução do impacto ambiental e a mitigação de vieses algorítmicos, pilares fundamentais de uma abordagem que visa não apenas o crescimento econômico, mas também a justiça social e a inclusão.

Para alterar essa realidade, Earp defende investimentos significativos em educação e infraestrutura tecnológica. Apenas por meio de um ecossistema que promova inovação e um ambiente regulatório claro, os países do Sul Global poderão competir e reverter a narrativa de vulnerabilidade na era da informação.

A questão em jogo vai além de dados: trata-se do controle sobre nossa própria realidade digital e do poder que isso confere às nações e às corporações. O desafio está posto: como os países em desenvolvimento, especialmente o Brasil, vão se posicionar para garantir não apenas o acesso, mas também a soberania sobre seus próprios dados e, por consequência, sobre seu futuro?

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