Os relatos dos habitantes revelam um clima de insegurança e incerteza, com a iminência de desapropriações que podem resultar na perda de suas moradias, sem garantias adequadas de indenização. Uma das principais reivindicações da comunidade é o respeito ao direito de consulta prévia, livre e informada, conforme estipulado pela Constituição e em tratados internacionais, que até o presente momento não foi assegurado.
Essa insegurança fundiária se soma a uma série de outras dificuldades históricas enfrentadas pela comunidade. O abastecimento de água é irregular, deixando muitas famílias sem acesso durante o período de estiagem. No setor de saúde, o posto localizado no Povoado Pedrão oferece atendimento limitado a alguns dias da semana, e os serviços de odontologia e exames são ainda mais escassos. Em situações de falta de medicamentos, os moradores são obrigados a se deslocar até a sede do município para adquiri-los.
O procurador da República Eliabe Soares, do Ministério Público Federal em Alagoas, enfatiza que os relatos coletados pela FPI são cruciais para embasar ações de proteção aos direitos das comunidades tradicionais. A coordenadora da Rede Mulheres de Comunidades Tradicionais, Elis Lopes, ressalta que a falta de regularização fundiária fragiliza o território e impulsiona a migração dos homens em busca de trabalho em outras regiões do Brasil.
Com uma população de 65 famílias, a comunidade Guarani baseia sua subsistência na agricultura, cultivando principalmente milho e feijão. As mulheres também contribuem com a produção de bolos artesanais, enquanto muitos homens buscam emprego temporário em estados como o Sul e o Sudeste. Além das lutas por terra, água e serviços essenciais, os moradores se esforçam para preservar sua identidade cultural, com iniciativas como a retomada do Samba de Quilombo.
Reconhecida desde 2009 pela Fundação Cultural Palmares, a comunidade possui imóveis rurais registrados no Cadastro Ambiental Rural (CAR). Em Olho d’Água das Flores, residem atualmente 197 famílias quilombolas registradas no Cadastro Único, das quais 133 recebem benefícios do Bolsa Família. Além do quilombo Guarani, a localidade abriga também o quilombo Gameleiro, revelando a rica diversidade cultural e as lutas sociais dessa região.