O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos), atravessa um período de crescente desgaste político. Criticado por setores da direita, da esquerda e até mesmo por Arthur Lira (PP-AL), seu principal fiador na eleição para o comando da Casa, o deputado tem visto sua base de sustentação encolher enquanto surgem novas denúncias envolvendo sua família e aliados.
Entre os bolsonaristas, o clima é de insatisfação desde a disputa pela mesa diretora, em agosto. Deputados próximos a Jair Bolsonaro pressionam Motta a pautar a anistia, promessa que segue indefinida. O vice-presidente da Câmara, Altineu Cortes (PL-RJ), tem afirmado a interlocutores que, se assumir interinamente o comando, colocará o tema em votação.
Na relação com Arthur Lira, a tensão também aumentou. O ex-presidente da Câmara considera que Motta tem se mostrado indeciso e reclama da demora em levar ao plenário a cassação do deputado Glauber Braga (PSOL-RJ), aprovada no Conselho de Ética. Motta, por sua vez, interpreta as críticas como reflexo da insegurança de Lira sobre sua candidatura ao Senado em 2026, em meio à disputa com o grupo político dos Calheiros em Alagoas.
Com a esquerda, as divergências giram em torno da agenda legislativa. Propostas consideradas prioritárias pelo governo Lula, como a PEC da Segurança e a isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, avançam lentamente. Além disso, medidas fiscais adotadas pelo Executivo foram derrubadas pela Câmara sob a presidência de Motta.
O cenário se complica diante de denúncias recentes. Reportagens apontaram suspeitas de esquema de rachadinha em seu gabinete, a nomeação de aliados investigados por desvios de recursos públicos e a compra de um imóvel em João Pessoa registrada por valor muito abaixo do de mercado. Mais recentemente, o Ministério Público Federal ajuizou ação contra uma empresa acusada de corrupção e superfaturamento em Patos (PB), administrada por Nabor Wanderley Filho, pai do presidente da Câmara. Emendas de Motta destinadas ao município estão sob investigação da Polícia Federal.