No entanto, a resposta do governo do então presidente Sebastián Piñera foi marcada pela repressão brutal, resultando em 34 mortes e mais de 3 mil feridos. Esta repressão, somada à pandemia de COVID-19, parece ter aniquilado o fervor inicial dos protestos, permitindo que as antigas estruturas de poder se mantivessem firmes e, em alguns casos, se fortaleçam. Um estudo recente indica que apenas 23% da população ainda apoia as mobilizações, uma queda drástica em comparação ao apoio de 55% observado em 2019.
Atualmente, o Chile é governado por Gabriel Boric, um presidente de esquerda que prometeu mudanças. Contudo, a insatisfação popular continua a crescer. Especialistas e analistas discutem que a nostalgia por um momento de esperança, quando milhões marchavam por mudanças, não se traduziu em avanços concretos. Para muitos, o ideal de transformar a Constituição, herdada da ditadura de Augusto Pinochet, em uma nova abordagem mais social e equitativa falhou. A tentativa de criar uma nova Constituição, elaborada em 2021 e rejeitada em plebiscito no ano seguinte, exemplifica esta frustração.
O sistema neoliberal, ainda presente, culpo por problemas persistentes de desigualdade e precariedade nos serviços públicos. Isso é especialmente evidente nas questões de aposentadoria, em que a dependência de fundos privados trazemos consequências desastrosas, levando a um aumento significativo de suicídios entre os idosos. Com uma eleição presidencial marcada para 2025, a incerteza se agrava. Se José Antonio Kast, um candidato de direita com raízes na era de Pinochet, vencer, é improvável que haja uma revisão constitucional.
Enquanto isso, os movimentos sociais que antes lutavam em uníssono se encontram divididos. Muitas das questões sensíveis abordadas nas propostas de nova Constituição geraram resistência, refletindo um país que, apesar dos avanços democráticos, ainda carrega cicatrizes profundas de seu passado autoritário. O caminho à frente para o Chile promete ser tão acidentado quanto a jornada que já se percorreu.









