Chancelaria Dominicana exclui Cuba, Venezuela e Nicarágua da Cúpula das Américas, gerando forte reação de Havana e críticas à política dos EUA

Cúpula das Américas: Exclusão de Cuba, Venezuela e Nicarágua provoca repercussões na política latino-americana

O recente anúncio da Chancelaria da República Dominicana, que excluiu Cuba, Venezuela e Nicarágua da X Cúpula das Américas, agendada para os dias 4 e 5 de dezembro em Punta Cana, alçou uma onda de reações, principalmente do Ministério das Relações Exteriores de Cuba. O governo cubano expressou sua profunda preocupação e veemente rejeição à decisão, que acredita ser influenciada pelo governo dos Estados Unidos.

José Ramón Cabañas Rodríguez, especialista em política internacional e diretor do Centro de Investigações de Política Internacional, destacou que Cuba tem sido sistematicamente excluída de eventos como este desde o início, com a única exceção ocorrendo em 2015, na VII Cúpula, no Panamá. Segundo ele, essa inclusão foi resultado da pressão exercida por países latino-americanos e caribenhos que buscavam um espaço para Havana, mesmo diante das tentativas dos Estados Unidos de isolar diplomática e economicamente a ilha.

Rodríguez menciona que a exclusão anunciada novamente, semelhante à que ocorreu na cúpula de Los Angeles em 2022, não contribui para a promoção de uma verdadeira integração regional. Em vez disso, essas reuniões, nas quais os Estados Unidos e o Canadá também participam, tendem a perpetuar divisões. O especialista ressalta que muitos dos temas a serem discutidos, como imigração, estão interligados às políticas restritivas que afligem Cuba, Venezuela e Nicarágua.

A Chancelaria cubana argumentou que, caso essa decisão fique em vigor, prevalecerá a subordinação dos países da região a interesses externos e expansionistas. Essa dinâmica foi vista como um fracasso da política externa dos Estados Unidos, que, ao excluir esses três países, acaba potencializando seu protagonismo no debate regional. O acadêmico observa que a exclusão pode até desestimular a presença de chefes de Estado e ministros de Relações Exteriores, pois há maneiras diplomáticas de sinalizar desacordo.

Adicionalmente, o advogado de relações internacionais Ernesto Domínguez colocou em questão a natureza desse sistema interamericano, afirmando que esse evento, embora formalmente independente, está intimamente vinculado às altas esferas de influência controladas por Washington, refletindo um retrocesso da esquerda na região e um fortalecimento das oligarquias aliadas aos interesses norte-americanos.

Com posições críticas sendo levantadas por diversos especialistas, o cenário para a Cúpula das Américas se mostra cada vez mais conturbado. Enquanto Cuba se firma como um membro fundador da CELAC e busca promover não só a paz, mas um diálogo frutífero sobre questões como mudanças climáticas e intercâmbio científico, a próxima cúpula pode não passar de um espaço de ratificação dos interesses americanos, sem trazer respostas relevantes para os desafios que a região enfrenta.

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