Os líderes religiosos, impulsionados pela ambição, descobriram que o chamado “milagre da influência” é mais rentável do que a cura de doenças. Contrapõe-se a antiga busca espiritual pelo poder econômico e político, que se revela cada vez mais atraente. Pastores erguem templos grandiosos, enquanto alguns padres modernizam o conteúdo de suas homilias, substituindo expressões tradicionais por jargões políticos. Em vez de buscar salvar as almas, muitos parecem mais preocupados em salvar os fiéis para seus próprios interesses.
Nesse cenário, a frase “Deus acima de todos” se transforma em um lema que legitima o acesso ao poder. Contudo, essa utilização do divino suscita uma reflexão profunda sobre o real significado da fé. É quase como se Deus, observando de longe, pensasse que está sendo usado como um simples trampolim por aqueles que deveriam, na verdade, ser seus servos. A fé se transforma em um meio de manipulação, enquanto os que mais precisam dela continuam a buscar consolo em suas crenças.
No espaço público e nas redes sociais, o discurso em nome de Deus se espalha rapidamente, embora muitos de seus intérpretes raramente se perguntam o que Ele realmente deseja. O Cristo que, segundo as escrituras, caminhava descalço, enfrentaria desafios para ser aceito nos templos que hoje são erigidos em seu nome, devido à superficialidade de alguns critérios que regem a aceitação religiosa.
A fé, atualmente, é transformada em espetáculo. Aqueles que sabem como se expressar de maneira eloquente e dramática tendem a conquistar espaços de poder, reforçando uma ligação intrínseca entre religião e política. Enquanto isso, do outro lado, há sempre alguém que, em meio à busca por milagres, contabiliza as doações, convertendo a esperança em estratégias de arrecadação.
Contudo, existe uma fé genuína, muitas vezes silenciosa, que não precisa de holofotes. Essa fé verdadeira habita em pessoas anônimas que, mesmo diante de desilusões políticas e religiosas, ainda acreditam na existência de algo maior. Uma fé que não é mercantilizada, que não se presta a manipulações e que representa a verdadeira conexão espiritual.
Assim, apesar de tantos que tentam se apropriar dela, a fé continua órfã. Aqueles que buscam possuí-la, na verdade, distanciam-se de sua essência. E aqueles que a guardam em seu íntimo, longe das câmeras e do marketing, são os que realmente mantêm um diálogo autêntico com o divino.
