Com o passar dos anos e após 35 anos de casamento com Iolanda, mãe de seus dois filhos, Raimundo mantinha um olhar resignado sobre a vida e as provações que ela trazia. Costumava afirmar que tudo o que acontecia, seja bom ou ruim, era parte dos “desígnios de Deus”. Apesar de sua aparência de homem recto, a vida de Raimundo não era tão linear. Em um dos seus momentos de fraqueza, ele se permitia a companhia de garotas de programa, um fato que mantinha em segredo, justificando suas saídas a si mesmo com a mesma frase resignada que repetia em outras adversidades.
Certa tarde, enquanto dirigia pela orla de Pajuçara, Raimundo avistou uma mulher pedindo carona. Atento à sua beleza e, talvez, à possibilidade de aventura, ele parou e a jovem entrou no carro. A conversa fluiu naturalmente até que, numa praia isolada, a situação se tornou um verdadeiro pesadelo. Antes que pudesse compreender o que estava acontecendo, Raimundo foi assaltado e sofreu uma experiência traumática que o marcaria para sempre.
Após o incidente, Raimundo esforçou-se para retomar sua rotina e contou à esposa sobre o assalto, omitindo, no entanto, os detalhes mais sombrios da noite. O apoio psicológico se tornou necessário, pois os traumas começaram a se manifestar em sonhos recorrentes. Um psicólogo ajudou Raimundo a entender sua sexualidade, revelando-lhe uma nova faceta de sua identidade que ele nunca havia explorado.
Atualmente, Raimundo se vê em um conflito interno: divide suas escapadas com garotas de programa e a exploração de suas novas descobertas, sem coragem de se abrir para o padre na confissão. A vida, entre o sagrado e o profano, continua a ser interpretada sob a mesma luz: “São os desígnios de Deus”.