CAMARA DOS DEPUTADOS – “Debate Revela Que 8 Milhões de Brasileiros Ainda Usam Amálgama de Mercúrio, Atraindo Riscos à Saúde e ao Meio Ambiente”

Uso de Amálgama de Mercúrio em Odontologia: Um Desafio à Saúde e ao Meio Ambiente

No Brasil, a persistência do uso de amálgama de mercúrio em tratamentos dentários continua a ser uma preocupação alarmante. Estima-se que cerca de 8 milhões de brasileiros estejam expostos a esse material, que é amplamente reconhecido pelos riscos que representa tanto para a saúde individual quanto para o meio ambiente. Esta questão foi amplamente discutida em um seminário promovido pela Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados, realizado no dia 24 de junho de 2025.

Durante o evento, Mari Polachini, representante da Aliança Mundial pela Odontologia Livre de Mercúrio, enfatizou que mesmo as restaurações antigas podem ser uma fonte de contaminação. “Quando eu morrer, se eu for cremado, esse mercúrio vai para o ar. Se eu for enterrado, contamina o solo. Sou um poluente”, declarou, destacando a gravidade da questão e questionando a inação em relação ao problema.

O mercúrio utilizado nas obturações dentárias é proveniente de um mineral chamado cinábrio e é conhecido por sua aplicação em diversas indústrias. No entanto, o resíduo gerado pelas obturações se torna um perigo ambiental. O ciclo de contaminação não se limita às clínicas odontológicas; o metal é, por vezes, direcionado para garimpos, onde a contaminação por mercúrio se espalha, afetando de forma grave o ecossistema e, consequentemente, a saúde humana. A ingestão de peixes contaminados, por exemplo, já é uma realidade alarmante, pois o mercúrio se acumula na cadeia alimentar.

A especialista em dentística restauradora, Magda Siqueira, acrescentou que o Brasil é um dos países que mais contribuem para a contaminação ambiental por meio do garimpo de mercúrio. A situação é crítica, uma vez que entre 270 e 341 toneladas de mercúrio são utilizadas globalmente em amálgamas dentários, representando 10% do consumo total dessa substância.

O deputado Nilto Tatto, que presidiu o debate, apresentou um projeto que propõe o fim do uso de amálgama de mercúrio na odontologia em um prazo de três anos. Ele indicou que, embora o Brasil seja signatário da Convenção de Minamata, que visa proteger a saúde humana e o meio ambiente dos efeitos nocivos do mercúrio, muitas pessoas ainda não têm acesso a alternativas seguras, devido à falta de informação e suporte do sistema público de saúde.

Embora a Anvisa tenha estabelecido restrições ao uso de mercúrio desde 2019, as práticas ainda persistem, colocando em risco tanto a saúde pública quanto os recursos naturais. A médica sanitarista Cecilia Zavariz, que atua na área desde 1986, declarou que a intoxicação por mercúrio continua a ser uma questão crítica no Brasil. Os trabalhadores do setor têm enfrentado sérios problemas, evidenciados pela alta taxa de intoxicações e a dificuldade em obter justiça e reparação.

Diante desse cenário, especialistas estão alertando que não há níveis seguros de exposição ao mercúrio. A urgência em erradicar o uso deste material na odontologia e em promover práticas sustentáveis é evidente, e o tempo para ação é agora. A sociedade, os legisladores e a comunidade médica precisam unir esforços para garantir a proteção da saúde e do meio ambiente, encerrando definitivamente a utilização de amálgama de mercúrio.

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