O Acordo BBNJ, que representa o terceiro instrumento de implementação da Convenção das Nações Unidas, é um produto de mais de duas décadas de discussões entre os países membros da ONU, contando com a assinatura aproximada de 60 nações. O deputado Túlio Gadêlha (Rede-PE), relator do texto, destacou que o tratado, longe de interferir na soberania nacional do Brasil, busca regular atividades em ecossistemas marinhos profundos que, até o momento, permanecem pouco explorados.
Essas áreas marítimas, considerando as que estão além da jurisdição nacional, abrangem cerca de 64% da superfície dos oceanos do planeta. Gadêlha ressaltou a importância da governança dessas regiões, que sustentam corredores migratórios e complexas cadeias alimentares. Ele alertou para as múltiplas ameaças que o alto-mar enfrenta, incluindo práticas de mineração em mar profundo, bioprospecção não regulamentada e poluição, enfatizando que a falta de uma legislação unificada pode levar a uma exploração predatória desse patrimônio comum.
Entre os principais pontos do Acordo BBNJ, destaca-se a proteção da biodiversidade marinha e o respeito pelos direitos das comunidades locais. O acordo determina que qualquer pesquisa relacionada a recursos genéticos marinhos deve ser realizada de forma pacífica e com o consentimento prévio das comunidades indígenas. Além disso, estabelece que as riquezas resultantes dessas pesquisas devem ser compartilhadas de maneira justa.
Outro aspecto relevante mencionado por Gadêlha é a exigência de avaliações de impacto ambiental para atividades que possam comprometer o ecossistema marinho, como a exploração de petróleo. Um “Mecanismo de Intermediação de Informação” será criado para facilitar o acesso a dados sobre recursos genéticos e demais informações pertinentes.
Vale ressaltar que o Acordo BBNJ não se aplica à pesca regulamentada pelo direito internacional, tampouco às atividades militares em embarcações governamentais. Com essa aprovação, o Brasil se posiciona na vanguarda de um modelo de governança marinha que integra princípios de proteção ambiental e justiça social. A expectativa é que o Senado analise e aprove o texto, consolidando o compromisso brasileiro com a preservação dos oceanos e a promoção de um futuro mais sustentável.