A discussão sobre a possibilidade de um mecanismo de resistência a sanções no BRICS levanta questões sobre a posição e as relações de cada um dos países membros. Há preocupações de que certas nações possam hesitar em participar ativamente desse esforço devido à sua interação diferenciada com potências ocidentais. Jorge Mortean, especialista em geopolítica, nota que a neutralidade do Brasil nas relações internacionais pode criar um obstáculo à construção de uma frente unida contra sanções. A Etiópia, por sua vez, enfrenta um dilema por manter boas relações comerciais com Israel, o que pode complicar sua adesão a um pacto mais combativo contra sanções.
Luana Paris, outra especialista sobre o assunto, pondera que muitos países do BRICS que também sofrem sanções – como Rússia e algumas nações africanas – podem apoiar a ideia de um mecanismo antissanções, dado que compartilham experiências semelhantes. A ascensão de tarifas e restrições de comércio por parte das administrações norte-americanas nos últimos anos reforça a noção de que a abordagem de sanções pode afetar uma ampla gama de nações, desconsiderando suas circunstâncias individuais.
A proposta de um mecanismo de compensação econômica que fomenete o comércio entre os países do BRICS, especialmente em setores que não sejam diretamente afetados por sanções, ganha destaque. O objetivo seria criar alternativas que minimizem os danos causados por restrições econômicas. O BRICS já dispõe de uma estrutura financeira, o Arranjo Contingente de Reservas (ACR), que foi estabelecido para ajudar os países em crises econômicas. A ideia, portanto, não seria criar um novo fundo, mas sim reformular o ACR para atender às novas demandas dos países sancionados.
Entretanto, a questão da governança desse mecanismo ainda é um ponto de disputa. Há especulações de que a China poderia assumir um papel de liderança, considerando seu envolvimento com liquidações internacionais. No entanto, tal centralização pode não ser bem vista por outras nações que valorizam uma estrutura mais horizontal no BRICS, com lideranças rotativas.
A construção de um mecanismo que ajude países a operar fora das restrições pode ser uma mudança significativa na dinâmica do BRICS, refletindo não só os desafios atuais enfrentados por membros como o Irã, mas também redefinindo a cooperação e o multilateralismo no cenário internacional. As próximas etapas envolvendo essas discussões determinarão se e como esse mecanismo poderá ser efetivamente implementado, impactando as relações internacionais e as economias dos países envolvidos.
